Por Christopher Goulart, advogado, primeiro Suplente de Senador (PDT-RS)
Questionamentos surgem ao natural em momentos que precedem a uma definição. Em outubro teremos a escolha de nossos representantes políticos, podendo haver uma nova votação em novembro. Desde já anotando que a opção pelo voto branco ou nulo, mesmo despontando em razão da notória decepção da população brasileira com a política, não define absolutamente nada, a não ser a própria marca do protesto.
Há uma contradição pairando no ar, eis que nossos destinos são traçados por agentes que sucumbem diante das tentações oferecidas pelo poder e pelo capital. Seres humanos são imperfeitos por natureza, porém, obviamente se espera uma conduta diferenciada por parte de homens e mulheres que administram recursos públicos. No atual modelo democrático, onde via de regra faz-se necessária a atuação teatral no mundo inflado de egos e vaidades, prepotência e arrogância, encontrar nomes imunes ao deslumbramento e impregnados de espirito público é realmente difícil.
Mesmo diante de tamanho conflito, sugiro não desconsiderarmos a origem dos que construíram nossos dias atuais, como costumo verificar em momentos de tensão. Absolutamente nada do que hoje existe poderia existir não fosse o esforço de gerações que nos precederam. Dar as costas à história é um erro fatal para qualquer pretensa civilização qualificada. Até mesmo para mostrar às novas gerações, que "Vivemos tempos líquidos. Nada é para durar", como já disse Bauman.
Aos moderninhos da tecnologia que apenas "olham pra frente", ignorando tudo o que foi construído, ignorando os exemplos que servem muito aos dias incógnitos, alertamos que ainda vivem perdidos nos cantos deste mundo algumas pessoas que acreditam nos valores sólidos, principalmente em se tratando de nosso destino comum como sociedade.
A percepção de que a substituição de valores permanentes pela onda do consumismo, proposta pelos patetas que imaginam que rejeitando a história, estaremos livres de vícios e estigmas que "ameaçam nosso futuro", torna-se cada vez mais necessária. De outra sorte, estaremos fadados a caminhar ao abismo do vazio de vidas sem almas, de cidadãos sem origem, de Estados sem destinos.