Em tempos de outono ou primavera a natureza te presenteia com dias maravilhosamente bem desenhados com as cores das árvores contrastando com um céu azul sem nenhuma nuvem e com uma temperatura de 24ºC ou 25ºC. Aqueles dias que seguramente pediríamos ao criador para que parasse o tempo para fruir mais e mais da beleza desta natureza pródiga!
Pois em uma destas jornadas, eu havia trabalhado bastante toda a manhã em assuntos político-administrativos da minha universidade e em torno do meio dia estava exaurido. Minha mulher passou para me buscar e almoçarmos juntos. Digo-lhe da minha vontade de fazer um lanche rápido e descansar um pouco para retornar para a labuta.
Inspiração, leitura de pensamentos, cumplicidade ou "não-sei-o-que" ela me diz: eu reservei uma mesa em um pequeno restaurante charmoso para nós dois nesta quarta-feira. Tento ainda resistir, mas como resistir a tanta afetividade, carinho e percepção subliminar da necessidade de fazer uma pausa e recarregar as baterias? A cumplicidade tem estas características de conhecer o outro pelo canto dos olhos. Vamos então!
Embarcamos e fomos ao restaurante. Havíamos estado ali outras vezes. Ele é pequeno com uma dezena de mesas, intimista, iluminado adequadamente, com plantas e flores e uma música suave, harmonicamente ajustada ao ambiente. A iguaria foi servida pelo "Chef" que possuía uma mão de mestre gastronômico, e nos oferecia um PS, ou seja, Prato Servido. Que delícia, tanto aos olhos quanto ao paladar!
Uma taça de um Pinot Noir para cada um era inevitável e possuía a complementariedade perfeita para aquele pequeno momento de paraíso terrestre.
Terminado o período permitido pelos deuses para este prazer multifacetário de comida, música, conversas, carinhos e afetos entre os dois, após saborearmos a sobremesa artesanal e o expresso perfumado, nos despedimos do envolvente recinto possuindo em nossas cabeças quatro palavras: para tempo, para tempo!
Caminhamos uma quadra ou quadra e meia para ajudar a digestão e ser abençoados por aquele sol aquecedor e aquele céu de um perfeito azul até encontrarmos um carro para voltar. Nesta caminhada, minha mulher com um longo vestido verde, ajustado ao seu corpo bem desenhado, de maneira perfeita e mágica. Nossos dedos, da sua mão esquerda e da minha mão direita, conversando com palavras em braile e nossas faces olhando o futuro.
Uma senhora com suas cãs cuidadosamente presas, que pedalava sua bicicleta, para, desce e vem até nós e me diz: como é linda a sua acompanhante, como vocês são lindos. Ela monta em sua bicicleta novamente e segue seu caminho até a perdermos de vista.
A minha companheira tem uma idade menor do que a minha, ela está na sua primavera e eu no outono da minha vida. A senhora teve a delicadeza de escolher a palavra certa, precisa, inequívoca, para fazer o elogio "sua acompanhante" em vez de sua filha, amiga esposa ou qualquer outra palavra.
Nós nos olhamos surpresos, maravilhosamente surpresos, nos beijamos com uma afetuosidade ainda maior do a que sempre, e olhando ao céu, disse-lhe: eu realmente não imaginava que este céu azul podia ser mais azul, e ela conseguiu deixá-lo mil vezes mais azul!
O que me surpreende ainda na vida é que momentos de ternura como este ficam tão indelevelmente marcados que não se esquece jamais!