* Psicóloga, coach executiva e idealizadora da Parallax
De que adianta ser vegano e engolir os colegas de trabalho? Escutei esse questionamento recentemente de Edson Matsuo, diretor de criação da Grendene, ou chineleiro como se autodenomina. Pensei em pedir um replay, tamanha a conexão com o que assistimos no âmbito público e privado. Vivemos tempos de contradições entre discurso e prática. O "parecer" cresce a passos largos em detrimento do "ser". Vidas paralelas para quem não foi diagnosticado com algum transtorno de personalidade atende, atualmente, pelo nome de Facebook, Instagram, Snapchat e Linkedin.
Vivemos tempos de permissão para parecer o que for mais oportuno. Só não é permitido ser careta ou demodê. Como acontece na adolescência, permanece o desejo de estar vinculado a uma tribo que nos defina como sendo de direita ou esquerda, do bem ou do mal, vegano, vegetariano ou carnívoro, feminista ou machista, colega ou adversário. Formamos clusters, aderimos aos seus princípios e somos parte dele.
Novos hábitos com regras radicais. A chamada economia dos hábitos saudáveis – mente e corpo são – tem seu preço. O que deveria ser uma postura ética e coerente diante do mundo, torna-se mera opção alimentar. Aprendemos a lutar pelas nossas ideias e espaços, vendo no outro uma possível ameaça à nossa sobrevivência. Um comportamento aprendido tornou-se o mal-estar de uma civilização que agora luta por distinguir o homem do animal. Mudar hábitos tão arraigados requer abrir mão da gratificação imediata e ter como foco a agenda ética.
Quando a ideia é parecer fica possível ser pela metade. Assim justificamos nossas contradições e aliviamos o fardo de contribuir com o sofrimento e a miséria no mundo. Muitas atrocidades poderiam ser evitadas ou minimizadas se a opção saudável buscasse o benefício de todos. Adotar uma postura de vida que pressupõe a preservação das espécies e que repudia a sua utilização para atender as próprias necessidades é um ato heroico. Mas que pode se revelar insustentável frente a uma realidade que tem nos cobrado cada vez mais coerência entre princípios e ações.