Eram por volta de 16h de ontem quando o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), precisou interromper uma já tumultuada sessão por conta de um bate-boca generalizado, com direito a troca de empurrões, insultos e dedo em riste, em meio a ternos e gravatas pagos com dinheiro público. Àquela altura, a polícia militar do Distrito Federal disparava balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo contra manifestantes que pediam a saída do presidente da República, Michel Temer. A reação, disseram os policiais, foi resposta a um grupo de vândalos que arremessou pedras, depredou prédios e colocou fogo em diversas estruturas na Esplanada dos Ministérios.
Enquanto Brasília estava em chamas, o presidente investigado por corrupção passiva, organização criminosa e obstrução da Justiça despachava no terceiro andar do Palácio do Planalto. Em um canetaço, decidiu então convocar as Forças Armadas para auxiliar na Garantia da Lei e da Ordem (GLO) no Distrito Federal. Horas antes, a Polícia Federal havia telefonado aos advogados de sua Excelência para verificar em qual data o presidente poderia ser "inquirido pela autoridade policial".
Mas voltemos ao decreto. Em que pese a gravidade do tema, o Planalto decidiu arremessar para o outro lado da rua a responsabilidade sobre o emprego dos militares nas ruas. Anunciou o ministro da Defesa, Raul Jungmann, que a convocação das Forças Armadas foi definida a partir de pedido de Maia. O mesmo que minutos antes não havia conseguido controlar os ânimos dos colegas que trocaram empurrões no plenário. Há algo de errado na República quando o governo joga a responsabilidade de um ato relevante do Executivo para o Congresso Nacional.
– Fazer isso de forma dissimulada é um horror – discursou o senador Renan Calheiros (PMDB-Al).
E há algo de mais errado ainda: quando Renan se torna a voz lúcida em meio à crise nacional.
– Se esse governo não se sustenta, não serão as Forças Armadas que vão sustentar esse governo – disse o senador.