A troca de farpas entre o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, expõe publicamente o destempero de autoridades que deveriam zelar sempre pela discrição. O resultado imediato é a fragilização da Operação Lava-Jato num momento particularmente tenso das investigações. Ao colocar o Ministério Público sob suspeita de promover vazamentos seletivos com interesses políticos, o ministro do Supremo fornece munição aos críticos da investigação. O confronto público é particularmente propício aos próprios políticos investigados ou seus aliados, sempre atrás de justificativas para desmoralizar a operação.
Assim como o ministro do STF, também o procurador-geral da República parece mais preocupado em fazer figuração junto aos seus pares do que em preservar a independência e o respeito entre os poderes. Termos fortes e acusações recíprocas entre autoridades responsáveis por questões tão relevantes são ainda menos admissíveis neste momento. Os cidadãos estão em busca justamente de lideranças sensatas e responsáveis para ajudá-los a superar a crise moral pela qual passam o país e muitas de suas instituições.
O conflito entre a preservação do sigilo e o interesse público por informações confiáveis, que está na origem das disputas verbais envolvendo as duas autoridades, precisa ser resolvido de forma menos tumultuada. A sociedade não pode se conformar com visões parciais e, muitas vezes, distorcidas sobre temas de interesse de todo o país. Essa é uma questão que deve ser enfrentada com base não no confronto, mas num diálogo construtivo,
que assegure mais transparência na atuação das autoridades.