Certa vez, em conversa com Eugênio Bucci, grande teórico do jornalismo e figura pra lá de querida, ele disse algo que me fez refletir bastante. O Eugênio tem disto: ao conversar com ele, o interlocutor invariavelmente toma um banho de lucidez, reflete sobre raciocínios de imensa sabedoria e, enfim, resta um tanto enriquecido.
Pois bem. Eugênio me disse:
– Faço uma analogia segundo a qual nos primeiros anos da imprensa na democracia, entre 1790 e 1850, a própria imprensa não observava valores éticos. A imprensa era canal de opinião, não de informação. A democracia e o exercício da liberdade ensinaram às pessoas o valor das condutas éticas, e assim a imprensa amadureceu. A ética é posterior à liberdade. As redes sociais ainda terão de passar por um processo educativo.
É daquelas frases que fazem o sujeito dizer "Uau!" e sair matutando. Sim, as redes sociais! Tem aquele grupo no WhatsApp com mensagens fora do tom, excesso de sexismo nos clubes do Bolinha e longos tratados de escasso interesse. Também tem, no Facebook e no Twitter, aquela agressividade que já se tornou um triste padrão. E não podemos nos esquecer nem mesmo do jurássico e-mail. Receber e não responder é algo como alguém cumprimentá-lo e você nem mesmo fazer aquele gesto simples e confortável de sorrir e soprar "Oi!" – sim, "oi" é um sopro de duas vogais. Aliás, você sabia que o sorriso é a expressão facial mais relaxante?
Enfim, nada disso requer alentados códigos de ética.
E tem o trânsito automotivo também. Nada de novo e de virtual nisso, não? Mais ou menos. Veja bem: o atual sistema viário, com seu amontoado de máquinas turbinadas, tornou-se uma constante briga por espaços. E não deixa de ser virtual, uma vez que parecemos avatares em carros impessoais nos digladiando com meio mundo. O trânsito me faz lembrar de antigas lições, como a de respeitar fila e ceder espaço a quem tem urgência.
São todos novos ou diferentes espaços. Mas nem por serem novos ou diferentes devem estar imunes a antigas lições de etiqueta. E, para fechar o texto e pretensiosamente deixar você sentindo vontade de refletir após dizer "Uau!", não custa usar uma palavra-chave. Etiqueta, aquela regra de bons modos, vem de ética.
Sim, foi de ética que falamos aqui.