Medicina usa o método indutivo dedutivo. Junta-se evidências para construir ou enfraquecer hipóteses. É como os detetives. Dificilmente há certezas, e nem sempre se deixa isso transparecer. A busca do certo ou errado, preto ou branco, passa longe dos tons de cinza que permeiam os dois extremos em medicina.
O New England Journal of Medicine de 3 de novembro de 2016 publicou o artigo de Arabella Simpkin e Richard Schwartzstein "Tolerando Incerteza – A próxima revolução médica?". Trabalham em escolas e hospitais importantes em Boston. Ponderam que a geração criada em computador, avaliada em testes de múltipla escolha, com uma suposta afirmativa correta e outras erradas, a disponibilidade de protocolos, diretrizes, rotinas, conduzem a crer em certezas que não são tão certas assim. Propõem que se ensine a conviver com hipóteses ao invés de diagnósticos, que se tolere e compartilhe mais com os pacientes as informações dinâmicas disponíveis em cada momento. O modelo atual faz com que se busque uma resposta só. Torna-se mais fácil sentar no computador das verdades do que usar tempo ao lado de pacientes, com informações que mudam, evoluem, não cabem na categoria sim ou não. As informações que nos narram, o que encontramos no exame físico, os resultados de exames, nem sempre compõem um bloco inequívoco de dados. Não conseguir conviver com incerteza neste cenário favorece ocorrência de esgotamentos, escalada de exames, que encarecem, podem confundir ao invés de ajudar, geram mais exames, preocupações, procedimentos desnecessários e seus efeitos.
Meu irmão, pneumologista em Chicago, chegou ao hospital e todos os seus residentes estavam numa sala, nos terminais de computador. Perguntou-lhes o que faziam, responderam que estavam vendo os pacientes. Ele ria muito quando me contou, disse a eles que estavam vendo o computador, os pacientes estavam em seus leitos. É mais fácil lidar com a máquina e suas certezas do que manter a relação humana, com informações que mudam, sentimentos. Incertezas e dúvidas se escancaram.
A única certeza que temos é a de lidarmos com a incerteza. Mesmo que tudo mude, isso não muda.