Quarenta e cinco alunos de sete anos se alfabetizaram em duas turmas da Escola Pública Zumbi dos Palmares em Londrina neste ano. Todos se alfabetizaram por Valéria Redon, mestra do Geempa, especialista na metodologia pós-construtivista. Eles estão em Curitiba, em viagem cultural, festejando a vitória de ter aprendido a ler e escrever. É incrível que isto ainda seja objeto de festa. E é. É para alunos das escolas públicas no Brasil.
Uma turma inteira se alfabetizar, em um ano letivo, é uma raridade em nossa pátria. Muitas crianças de classes alta e média chegam aos seis anos na escola já alfabetizadas. Aos alunos de escolas públicas, é previsto que o façam, se conseguirem, até os oito anos de idade. Por quê? Para não traumatizá-los reprovando-os no 1º ano e no 2º ano, porque eles não vão conseguir aprender a ler e a escrever. Só que eles não conseguem não porque eles não têm condições, porque seriam desnutridos, seriam de famílias "desestruturadas", convivem de perto com a violência, inclusive a do tráfico de drogas ou são hiperativos ou com déficit de atenção. Eles não aprendem porque para eles os métodos convencionais de alfabetização são inadequados. Mudem o método, que todos aprenderão como estes que estão em Curitiba.
Essas crianças, quando chegam à escola, não fazem vinculação entre fala e escrita. Não podem conceber relação entre a, e, i, o, u e seus sons. Elas ainda pensam que se escreve com desenhos ou com sinais gráficos, porém, neste segundo caso, sem ter que ver com a pronúncia. E por que isso? Por que são menos dotadas que nossos filhos e netos? Não. Porque são filhos de 50 milhões de analfabetos adultos e eles não convivem com pessoas que leem e escrevem. Aprende-se a partir de situações que têm a ver com os conceitos em jogo. Sem situações de escrita e de leitura em casa, se chega à escola em um momento inicial do processo de alfabetização. É preciso levar isto em conta, sob pena de condenar, injustamente, uma multidão de alunos.
Ainda bem que há algumas Valérias em escolas públicas, que com essa metodologia realizam sempre a façanha de alfabetizar 100% em um ano letivo, propiciando a seus alunos a grande viagem de sair do mundo analfabeto para o mundo dos alfabetizados.