"Cidades se desenvolvem e se tornam capitais turísticas graças à criação de centros culturais: Bilbao é um exemplo. Aqui, em vez de inaugurar centros de cultura, encolhe-se instituições, por indigência de verbas ou falência de ideias. Homens e mulheres que elegemos para nos representar viram as costas, utilizando desculpas tacanhas para esconder sua incompetência na gestão de políticas públicas. Todas as invenções esdrúxulas já foram aventadas para a Cultura: fundir, deslocar, reduzir, acanhar. Soluções apressadas e inadequadas são sugeridas, para que o Estado se veja livre de incômodos trastes como teatros, orquestras, museus e coleções oficiais, e, principalmente, fuja de sua função primordial, que é apoiar e manter a cultura."
O texto acima foi escrito por mim e publicado em Zero Hora no dia 8 de outubro de 2007. Quase 10 anos depois, além de nada ter mudado, tudo piorou. Como naqueles desenhos animados em que o personagem fica solto durante algum tempo no ar antes de cair no abismo, mais uma vez estamos sob a ameaça do Estado de não cumprir suas funções. O governo federal nos ameaça com a supressão de artes e música do Ensino Fundamental; o estadual nos ameaça com a extinção da brava TVE e da FMCultura, cujo papel na divulgação da nossa cultura regional é indiscutível e histórico.
No Rio Grande, há instituições que poderiam ser privatizadas para funcionar com mais eficácia, e outras que poderiam ser eliminadas sem que ninguém notasse sua ausência. Só que a ideia de suprimir uma entidade que promove a cultura gaúcha sem representar um grande peso financeiro no organograma do estado, não é nada criativa. O governo poderia dar um exemplo de sensibilidade, reforçando o papel da Fundação Piratini, e utilizando seus canais de comunicação já existentes e conhecidos. Parte da generosa verba atualmente direcionada à publicidade oficial e absorvida por empresas de publicidade poderia ser desviada para ações educativas, e em vez de fechar a TVE e a FM Cultura, mantê-las abertas para mostrar suas façanhas.