Ainda que a eleição do empresário Donald Trump assuste o mundo por conta de suas posições populistas, nacionalistas e xenófobas, entre outras pouco edificantes, o primeiro ponto a considerar em relação à surpreendente vitória do republicano é o de que uma democracia sólida não permite aventuras apocalípticas. Trump pode até querer construir um muro na fronteira com o México ou expulsar todos os imigrantes em situação irregular, mas precisará da chancela do Congresso para levar adiante a maioria de seus planos. Além disso, a mesma imprensa que apoiou majoritariamente sua oponente continuará atenta aos seus movimentos, assim como a própria população norte-americana, que dispõe de instrumentos eficientes para fiscalizar seus representantes políticos.
A escolha de Donald Trump está sendo explicada pelos jornais norte-americanos como uma rejeição do eleitorado ao sistema político e ao establishment, representados por Hillary Clinton e pelo próprio presidente Barack Obama, que, contraditoriamente, está encerrando o seu governo com mais de 50% de aprovação. A verdade é que o empresário encarnou durante a campanha o antipolítico, condição que, no imaginário popular, foi suficiente para deixar em segundo plano suas bravatas, ameaças e manifestações politicamente incorretas, entre as quais as ofensas a mulheres e estrangeiros.
O próprio Trump, porém, apressou-se em mudar o discurso depois da vitória, garantindo que governará para todos. O que fará realmente é uma incógnita, o que já justifica a apreensão internacional e mais ainda o temor dos mexicanos em relação à atual parceria comercial e a possíveis restrições fronteiriças. Há razões para preocupações, mas a vontade soberana do povo norte-americano tem que ser respeitada e o resto do mundo deve retirar as devidas lições do episódio e torcer para que, como disse o jornal Washington Post em editorial, Donald Trump seja melhor presidente do que preveem aqueles que o rejeitam ou temem.