Mais de 30 anos se passaram desde que a novela Vale Tudo, escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassèles, foi exibida pela primeira vez. No final do mês passado, a versão repaginada do folhetim de 1988 chegou às telas da RBS TV, com roteiro assinado por Manuela Dias.
Além de dar novos rostos a personagens que vivem no imaginário do público, como a inesquecível vilã Odete Roitman, originalmente interpretada por Beatriz Segall (1926– 2018), e agora vivida por Debora Bloch, algumas adaptações foram necessárias para adequar o estilo dos atores à época atual.
Do clássico ao contemporâneo
Em entrevista para Donna, a responsável pela concepção das peças usadas pelo elenco do remake, Marie Salles, contou que estudou os personagens minuciosamente para garantir a contemporaneidade do tempo atual sem perder a essência de cada um deles.
— Eu assisti à novela de 1988. Depois, li o texto da Manuela Dias e comecei a pensar nesses personagens nos dias de hoje. Vale Tudo é contemporânea, mostra os dias atuais, mas apresenta uns fans services (serviços para fãs, em tradução livre) no figurino — destaca.
Se na década de 1980 Odete Roitman apostava em roupas mais chamativas e cores vibrantes, na nova versão ela adota um estilo mais sutil e refinado, por exemplo. É por isso que na pele da antagonista, Debora Bloch veste peças contemporâneas e marcas de luxo, como Valentino e Christian Dior.
Além de se inspirar em mulheres fortes e personagens marcantes, como Miranda de O Diabo Veste Prada, Costanza Pescolato e Carolina Herrera, Marie se inspirou na própria Odete da versão original.

Para Carolina Leão, figurinista na área de publicidade e cinema, dependendo do tom que a dramaturgia pede, alguns estilos mais caricatos podem ajudar a ilustrar a história muito melhor. Já nos casos em que a trama tem uma proposta mais naturalista, o caricato já não é bem-vindo.
— A comunicação por trás desses códigos discretos de exclusividade traz justamente essa mensagem do poder que ela (Odete) quer que todos saibam que ela possui, além de transmitir o distanciamento dos demais grupos sociais que ela quer expressar — explica.
"Quiet luxury"
Além de Odete, a família Roitman também segue o conceito do quiet luxury — estética que prioriza a qualidade e a discrição, o oposto de um luxo extravagante— de acordo com Marie.
— Já a Heleninha (Paolla Oliveira) se esconde. Normalmente, está com um casaco, uma camisa por cima da roupa. Ela quase sempre usa uma terceira peça. Tecidos fluidos e moles com uma paleta clássica — afirma.

Por conta da época, a narrativa de Vale Tudo também precisou passar por algumas adaptações. Nesta nova versão, por exemplo, ao invés de desejar ser modelo, Maria de Fátima (Bella Campos) quer ser influenciadora digital.
— Por meio de suas roupas, ela já mostra que é ambiciosa e quer mais do que tem — conta Marie. Conforme a figurinista, o verde e o roxo são as cores predominantes das roupas da protagonista, que passa por mudanças ao longo da trama.
— Quando ela vai para o Rio e toma um banho de loja com roupas caras e de qualidade, nosso ponto de partida foi o trench verde limão — contou.
Solange Duprat

Outra marca da novela original, a franja icônica da personagem Solange Duprat — interpretada por Lídia Brondi na versão original — também foi mantida, assim como os laços e arcos.
Na trama, o guarda-roupa da diretora da agência Tomorrow, agora vivida por Alice Wegmann, também foi formada exclusivamente por roupas de segunda mão, já que a personagem é muito ligada à sustentabilidade.
Produção: Rayne Sá