Deparei com o título acima num artigo da página de opinião do Wall Street Journal de 22 de setembro. Foi escrito por dois médicos de Boston, doutor Gardner, residente, e doutor Levinson, cardiologista e professor na Harvard.
Fazem observações a respeito das exigências que o exercício informatizado da medicina interpõe entre médico e paciente. Comparam a atenção do médico diante de um terminal de computador durante a consulta ao ato de digitar dirigindo no trânsito. A atenção cai, divide-se. O risco aumenta.
Informatização, rotinas, protocolos, diretrizes, buscam aprimorar os cuidados médicos. Porém, a concentração em hospitais e grandes centros, a presença da terceira parte intermediando e financiando, governo, seguros e planos de saúde, acabaram distanciando pacientes e médicos.
Michael Porter criou o conceito de remunerar mais a quem produz melhor resultado para o paciente, que é o objeto final de toda cadeia produtiva da saúde. Os pagadores governamentais e privados nos Estados Unidos passaram a usar esse modelo. Agora, todos sabem o que é necessário demonstrar para receber mais. Resultado: clínicas e hospitais estão programados para que todos preencham os dados na forma que gera maiores pagamentos. É o registro para mostrar melhores resultados que se tornou finalidade. E os resultados reais para os pacientes?
Diretrizes, protocolos, rotinas, algoritmos, ao invés de serem instrumentos de apoio, por vezes tolhem a liberdade para criar a melhor solução. Cada pessoa é única, cada doença em cada pessoa é diferente, muitas vezes complexidades múltiplas coexistem. Exercer medicina exige o entendimento da sutileza de cada caso, a abordagem é sempre nova.
Neste outubro do dia do médico, homenageio os que praticam a profissão mantendo o foco e atenção em cada ser humano ao qual dedicamos nosso trabalho. Os modernos recursos são indispensáveis, mas no seu devido lugar, de elemento auxiliar. O fim é e continuará sendo a pessoa a que se deve dedicar atenção plena, empatia, competência e humanidade.