Você deve ter descoberto recentemente, assim como eu, e com grande grau de surpresa, que o "gênero" musical mais vendido no Brasil é a Sofrência: músicas que relatam estados de desilusão, tristeza, sofrimento e carência.
Acredito que o mundo e o país estejam sendo vitimizados por um longo processo de "sofrência econômica" devido a uma crise crônica de falta de soluções. No passado, a ciência econômica foi protagonista e apresentou proposições para retomadas do crescimento e da prosperidade. Mas nos últimos tempos, o receituário econômico vem apostando sempre no mesmo caminho: provocar recessão para reequilibrar as contas nacionais e potencializar o crescimento. Analistas econômicos, investidores, financistas e, surpreendentemente, economistas apregoam as mesmas estratégias para a gestão do equilíbrio macroeconômico. Talvez encontremos uma explicação em Nietzsche (1844-1900) em seu eterno retorno, quando descreveu que os ciclos na história da humanidade são repetitivos, uma certa prisão à repetição de erros, nos amarrando num processo não evolutivo.
O economista Anthony Downs em 1957 descreveu sua teoria da ignorância racional na qual explica que nós humanos calculamos que o custo de obter soluções pode ser elevado o suficiente para nos manter repetindo as ações presentes mesmo que elas estejam erradas. Pois a nossa crise pode ter se tornado tão complexa que o custo de obter informações, conhecimento e competências para retomar o processo de desenvolvimento econômico tenha se onerado de forma tal que a opção pela ignorância nos soa, paradoxalmente, mais racional.
Diante disso, as receitas de sofrência econômica parecem ser um linimento. No entanto, a evidência histórica tem mostrado que as políticas macroeconômicas recessivas prologadas provocam desemprego estrutural, dissolução do tecido social, perda de competitividade das empresas, atraso tecnológico, e, sobretudo, falta de apoio político para proposições de retomada do crescimento e para estabilidade democrática.
A solução, portanto, passa, primeiro, pelo aprendizado da sociedade de que o custo da ignorância é muito maior que o grande esforço a ser feito para retomar o desenvolvimento econômico.