
Ao embolsar privilégios e vantagens inacessíveis a outros servidores num momento em que o Estado atrasa salários e restringe repasses a áreas essenciais, como a Segurança e a Educação, parlamentares, juízes, conselheiros e funcionários graduados dos poderes Legislativo e Judiciário, MP e Tribunal de Contas escancaram uma deformação que ofende a cidadania. A autonomia orçamentária existe para evitar que tais instituições sofram algum tipo de pressão ou tenham que se submeter ao Executivo, mas não para financiar aberrações, como auxílio-moradia, auxílio-alimentação e benefícios questionáveis como o resgate das perdas decorrentes da conversão dos salários pela URV, que afetou a todos os brasileiros.
Considerando-se os vencimentos dos beneficiados com verba suplementar para moradia e alimentação, eleva-se ainda mais o contraste entre esses integrantes da administração pública e a maioria dos servidores, que recebem pouco e ainda com atraso. Evidentemente, os vencimentos devem ser compatíveis com as atribuições, mas não há justificativa plausível para algumas vantagens autoconcedidas ou obtidas pelo poder de influência dos solicitantes.
O que causa mais desconforto aos cidadãos e contribuintes é a constatação de que os recursos arrecadados de todos são insuficientes para custear até mesmo serviços essenciais, mas deles são retiradas as parcelas destinadas a proporcionar aos "mais iguais" da fábula de Orwell privilégios, penduricalhos salariais e compensações para perdas inflacionárias que atingiram toda a sociedade.