Por Rodrigo Müzell, gerente de produto de jornalismo da RBS TV e membro do Conselho Editorial da RBS
Diante da urna no dia 30, o eleitor terá a chance fundamental de opinar sobre o rumo que prefere para o Estado e o Brasil. Para isso, precisa de algo bem básico: saber o que os candidatos pretendem fazer. A tarefa costuma ser complicada, mas não por falta de recursos – a propaganda eleitoral em rádio e TV e a cobertura diária da imprensa neste período são algumas delas.
No próximo dia 14 na Rádio Gaúcha e na noite de 27 de outubro na RBS TV, o eleitor terá à disposição outra ferramenta importantíssima: os debates para o governo do Estado. Quando as ideias de um candidato podem ser questionadas por outro, que tem, por sua vez, a chance de mostrar por que as suas são melhores. O confronto de ideias ajuda a separar o que é realizável e o que é apenas boa intenção – ou demagogia.
É um desafio da mídia avaliar se os formatos funcionam, mas a sociedade e o meio político também precisam repensar os debates
Após o primeiro turno, porém, é preciso questionar: ajudou mesmo? Nos debates para a eleição presidencial, foi difícil ver propostas concretas em discussão. Ainda mais raro, vê-las sendo levadas a sério pelos oponentes. Sobraram ataques às biografias alheias e louvação ideológica; faltaram projetos. Em vários momentos, vimos brigas pessoais que resultaram na avalanche de direitos de resposta concedidos no debate da Rede Globo, no último dia 29.
O calor da discussão é inevitável, não é em si negativo e muito menos exclusividade brasileira. Como definir um formato que mantenha a conversa entre os candidatos, mas também estimule que tratem dos assuntos mais relevantes à população? A TV francesa aposta em colocar os dois candidatos frente a frente, definindo os temas e deixando que conversem sem interferência do mediador. No Brasil, a tradição é haver etapas mais definidas e cronometradas no detalhe. Se busca garantir a variedade de assuntos, misturando momentos de tema livre com outros determinados pela produção.
É um desafio da mídia avaliar se os formatos funcionam, mas a sociedade e o meio político também precisam repensar os debates. A legislação que determina a TV e rádio que convidem um grande número de candidatos – eram sete nos presidenciais – pode ser reavaliada. Ainda mais fundamental, porém, é que os candidatos cheguem para o debate para apresentar ou criticar propostas, em vez de agredir adversários ou tentar “causar” em trechos recortados especialmente para as redes sociais. Ao jornalismo profissional, cabe estimular a postura construtiva e não tratar estes momentos como um jogo com vencedores ou perdedores.