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O Senado argentino rejeitou, nesta quinta-feira (20), a abertura de uma comissão investigadora contra o presidente Javier Milei no caso da promoção da criptomoeda $Libra, que provocou prejuízos milionários a investidores. Eram necessários 48 votos para instituir a apuração. Contudo, apenas 47 dos 72 senadores deram aval ao processo, de acordo com o jornal La Nación.
Outros 23 senadores votaram contra a abertura da comissão. Além dos integrantes do partido de Milei, La Libertad Avanza, o presidente contou com o apoio do Cambiemos, ligado ao ex-presidente Mauricio Macri, e de senadores independentes, da Unión Cívica Radical, um partido de centro. O jornal Clarín classificou o resultado como um "alívio" para o governo.
Mais cedo, o Senado havia aprovado, por 53 a 17, uma moção para levar o caso para votação. No entanto, de acordo com o La Nación, a Casa Rosada pressionou governadores para que senadores aliados recuassem e votassem contra a investigação.
— O presidente confessou ser um corrupto — protestou o senador José Mayans, chefe da bancada do Unión por la Patria, partido da ex-presidente Cristina Kirchner.
Em meio à votação, o presidente argentino viajou para Washington, nos Estados Unidos, para participar de uma reunião de cúpula conservadora e se reunir com o empresário Elon Musk e com a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva.
Entenda o caso
Javier Milei é o centro de uma polêmica política e econômica na Argentina. Após publicar mensagem, na sexta-feira (14), de incentivo a uma criptomoeda, o presidente argentino é alvo de críticas dos aliados, uma investigação anunciada pelo próprio governo e teve seu nome vinculado pela oposição a um possível processo de impeachment.
A crise foi desencadeada por uma mensagem no X (antigo Twitter) na qual Milei apontou que a criptomoeda $Libra incentivaria o crescimento da Argentina. O presidente ainda compartilhou um link para o investimento, liderado por Hayden Davis.
Após a publicação, o ativo teve um aumento de 10 vezes em sua cotação, mas despencou nas horas seguintes, fazendo com que milhares de investidores perdessem dinheiro investido. Milei então apagou a mensagem e disse que não estava ciente de detalhes do projeto.

Entrevista
Milei se envolveu em uma nova polêmica, depois de tentar esclarecer o caso em uma entrevista concedida na segunda-feira (17) ao canal TN — Todo Noticias, emissora do Grupo Clarín, maior empresa de mídia do país. Após a exibição da conversa na televisão, uma versão não editada divulgada na internet mostrou que as perguntas seriam previamente combinadas pela equipe do veículo com membros da equipe presidencial de Milei.
Em um dos trechos do vídeo, após o presidente ironizar críticas de que a entrevista seria combinada, o apresentador Jonatan Viale comenta que as perguntas da entrevista foram acertadas com Karina Milei, irmã do presidente, com o porta-voz do governo, Manuel Adorni, e Santiago Caputo, um dos conselheiros mais próximos de Milei.
Logo na sequência, Milei diz que poderia convocar o ministro da Justiça da Argentina como seu conselheiro jurídico. Nesse momento, Caputo interrompe a entrevista, se aproxima e sussurra algo no ouvido de Milei, mas não é possível entender o que foi dito. Na sequência, Viale diz que a fala de Milei poderia gerar "confusão judicial" para o governo. O apresentador, então, refaz a pergunta, e a entrevista segue normalmente.
Nesta terça (18), Adorni minimizou a repercussão do vazamento do vídeo. De acordo com o jornal La Nación, a Casa Rosada considerou que "não havia nada de mal" no trecho cortado e que a interrupção de Caputo foi considerada "desnecessária" por Milei.
Em seu programa, na noite de terça, o jornalista Jonatan Viale culpou Caputo pelo episódio, afirmando que o consultor foi grosseiro ao interromper a entrevista. O apresentador assumiu que aceitou cortar o trecho e disse que deveria ter sido firme contra o estrategista de Milei.