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O governo dos Estados Unidos argumenta que a recente imposição de tarifas de importação sobre produtos de alguns países é parte de uma estratégia de combate ao tráfico de drogas. No sábado, a gestão de Donald Trump passou a cobrar taxas alfandegárias de de 25% sobre produtos do México e do Canadá e de 10% sobre itens da China.
— Não é uma guerra comercial, é uma guerra contra as drogas — afirmou o diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca, Kevin Hassett, em entrevista ao canal CNBC.
O governo Trump, então, apresenta as medidas como resposta à falta de fiscalização das fronteiras, em especial pelos vizinhos. No entanto, ao ser questionado sobre a possibilidade de as tarifas serem revistas, caso houvesse maior controle pelos países alvos, Hassett negou:
— Não é isso que estou dizendo. Há todo esse fentanil sendo enviado pelas fronteiras. A resposta dos nossos vizinhos não foi, "ei, vamos te ajudar a resolver esse problema." Em vez disso, foi, "pode ir em frente e construir um muro".
Nesta segunda-feira (3), porém, a imposição das taxas alfandegárias sobre as importações vindas do México foi adiada, após acordo entre os governos. Entre os termos, está a ampliação da presença militar na fronteira entre os países.
O diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca disse ainda que durante o fim de semana houve uma série de negociações para tentar evitar a imposição de tarifas contra outros parceiros comerciais. Hassett afirmou que os mexicanos estavam dispostos a ampliar o combate ao tráfico, enquanto o Canadá, na avaliação dele, "parece ter interpretado mal" a medida, vendo-a como guerra comercial.
Mas e a China?
Em relação aos países vizinhos, a alegação do governo dos EUA de que a guerra não é comercial é mais fácil de compreender. Mas por que a Casa Branca vê responsabilidade da China pela entrada de drogas em território norte-americano?
Isto tem relação, principalmente, com o fentanil, um opioide que é responsável atualmente por uma crise na saúde dos Estados Unidos — tornou-se a principal causa de mortes entre americanos de 18 a 45 anos. Segundo as autoridades, são mais de 70 mil óbitos por overdose relacionados a esta droga a cada ano no país.
O fentanil é 50 vezes mais forte do que a heroína e é considerado muito mais barato e fácil de produzir. As substâncias que formam esta droga são, em sua maioria, legais na China, onde são usadas como analgésicos.
O departamento de controle de drogas dos EUA (DEA, Drug Enforcement Administration), então, diz que estes produtos são vendidos por chineses a traficantes estadunidenses e cartéis mexicanos.
— O comércio mundial de fentanil que provoca a morte de americanos geralmente começa em fábricas químicas chinesas — disse Merrick Garland, enquanto era procurador-geral dos EUA.
E não é só a administração Donald Trump que vê as coisas desta forma. Em outubro de 2024, Joe Biden sancionou dezenas de entidades e indivíduos sediados na China. O grupo, principalmente de empresas, é acusado de ter enviado ao México e aos Estados Unidos cerca de 900 quilos de fentanil e precursores químicos, apreendidos pelas autoridades. O governo chinês nega que haja tráfico ilegal de fentanil de seu território para a América do Norte, mas tem tomado medidas para fortalecer o controle sobre o comércio das substâncias usadas na fabricação da droga.
Vai funcionar?
Não há garantia, porém, de que a taxação de todas as importações vá impactar o tráfico de fentanil. Especialistas apontam, inclusive, que o efeito pode ser contrário.
— A China está ampliando sua cooperação na aplicação da lei e no combate ao tráfico de drogas com países com os quais mantém boas relações, mas quanto aos países com os quais mantém relações ruins ou que estão enfraquecendo, recusa qualquer cooperação — avalia Vanda Felbab-Brown, do laboratório de ideias americano Brookings Institution.