A Turquia começou a enterrar nesta quarta-feira (22) os 76 mortos na véspera no incêndio de um hotel de luxo na estação de esqui de Kartalkaya, em meio a acusações de negligência.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, compareceu em Bolu, a capital provincial, ao funeral de oito membros da família de um ex-deputado do AKP, seu partido.
Cerca de vinte pessoas permanecem hospitalizadas em Bolu, a 35 km da estação de Kartalkaya, no centro do país
De acordo com a imprensa turca, a ausência de alarme de incêndio no hotel Grand Kartal, entre outras negligencias, explicam o grande número de vítimas.
A busca por possíveis vítimas prosseguiu nesta quarta-feira no grande prédio de 12 andares, cuja fachada foi enegrecida pelo fogo.
Famílias inteiras estavam hospedadas neste estabelecimento de luxo, a duas horas de Ancara, coincidindo com as férias escolares na Turquia.
"Quando cheguei, havia chamas por toda parte, podíamos ouvir gritos (...) Vi uma pessoa pulando da janela", explicou à AFP Cevdet Can, diretor de uma escola de esqui na estação.
"Perdi cinco dos meus alunos", disse o instrutor de esqui Necmi Kepcetutan, que sobreviveu ao fogo. " Minha amiga enfermeira que trabalhava no hotel entrou em pânico e se jogou. Ela está morta. isso é o que mais me machuca", disse emocionado.
Outros sobreviventes relataram na terça-feira a ausência de alarme de incêndio e portas corta-fogo no hotel.
Nove pessoas, incluindo o dono do estabelecimento, o gerente e um eletricista, foram detidas no âmbito da investigação iniciada pelo Ministério da Justiça dirigida por seis promotores.
Islam, um funcionário de outro hotel da área que não quis dar seu nome completo, explicou à AFP que foi acordado pelo barulho de um helicóptero e foi direto ao local. "Vi uma criança pendurada na janela do hotel chorando pedindo ajuda".
- "Negligência" -
A direção do hotel ofereceu suas condolências e expressou "seu pesar" em um comunicado, assegurando que "cooperará com as autoridades para esclarecer este acidente".
O hotel de luxo estava praticamente cheio, com 238 clientes registrados.
De acordo com o Ministério do Turismo, o hotel foi "revisado" pelos bombeiros em 2021 e 2024. No entanto, o Ministério e a administração de Bolu, nas mãos da oposição, acusam-se mutuamente das falhas no cumprimento das normas de segurança.
A agência de notícias estatal Anadolu publicou nesta quarta-feira um documento do governo de Bolu, de 2 de janeiro, certificando que um novo "café-restaurante" de 70m2 localizado no quarto andar, o local onde teria começado o incêndio, cumpria as normas.
As autoridades afirmam que o incêndio começou pouco antes das 03:30 de terça-feira e os bombeiros chegaram ao local em menos de 45 minutos. Mas de acordo com testemunhas e sobreviventes, começou pelo menos uma hora antes.
"Não foi o incêndio, mas a negligência que causou a morte" dos turistas, escreveu o diário Hürriyet, pró-governamental.
O ministro do Turismo negou a ausência de escadas de emergência, como explicaram alguns sobreviventes, e assegurou que o hotel tinha duas.
O prédio, com vista panorâmica para as montanhas, está localizado perto de uma inclinação acentuada, o que dificultou a intervenção dos bombeiros.
De acordo com a imprensa turca, o revestimento do hotel também facilitou a propagação das chamas para o resto do edifício.
* AFP