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Após o acidente aéreo envolvendo um avião de pequeno porte que caiu em São Paulo, dúvidas sobre os riscos no uso de determinados modelos voltam a dominar o imaginário popular. A aeronave em que estavam o advogado gaúcho Márcio Carpena e o piloto Gustavo Medeiros era um King Air F90, com capacidade para oito pessoas e dimensões de 4,6 metros de altura e 12,1 metros de comprimento.
Mas o tamanho de determinada aeronave não é fator determinante para aumentar ou diminuir a segurança, segundo especialista ouvido pela reportagem de Zero Hora. Um dos pontos que pode explicar a percepção de maior número de acidentes com esse tipo de avião é o aumento no número de voos nos últimos anos, com maior demanda por voos executivos.
Examinador de pilotos da Agência Nacional de Aviação (Anac), Fábio Borille afirma que o porte da aeronave não é o quesito fundamental para determinar a segurança de um voo. Essa conta leva em consideração outros fatores como manutenção, operação e infraestrutura, de acordo com o profissional.
No entanto, Borille destaca que a capacidade de alcançar altitudes maiores pode proporcionar voos com menos interferências externas. Ou seja, quanto maior a altitude que uma aeronave alcança, menos sujeito a intempéries e turbulências esse modelo vai estar.
Por exemplo, um bimotor terá mais condições de driblar dificuldades impostas pelo clima do que um monomotor. Já um jato, que alcança altitudes maiores, vai conseguir trafegar em um ambiente mais "limpo" e com maior performance do que as duas aeronaves menores.
— Não se pode creditar, por ser um avião menor, ele ser seguro ou não. Bem pelo contrário. Tem que desestigmatizar isso. As pessoas olham uma aeronave, um monomotor de nove passageiros, e têm medo de entrar. Não precisa ter medo de entrar, (sendo) uma aeronave extremamente cuidada, a manutenção é muito regular. Claro, é diferente você pegar uma aeronave dessa e entrar num tempo ruim. Agora, se você pegar e comparar um jato comercial com um jato executivo, ambos se equivalem — comenta Borille, especialista em segurança de voo.
Em dezembro de 2024, a queda de um avião de pequeno porte deixou 10 pessoas mortas em Gramado, na serra gaúcha. Outro acidente envolvendo uma aeronave pequena, em janeiro, na cidade paulista de Ubatuba, causou a morte do piloto.
Formação
Fábio Borille avalia que um dos pontos que pode ser aperfeiçoado no sistema aéreo brasileiro é a formação. Hoje, a instrução de pilotos no Brasil ainda é boa, mas o processo foi amenizado, com menos exigência dos pilotos no caso de situações adversas comparando com o passado, comenta o especialista.
O processo e os equipamentos usados hoje em dia exigem menos dos alunos, que se formam com menor conhecimento de situações adversas.
— Antigamente, a gente usava aquelas aeronaves com pouso mais complicado de se fazer, onde você exige um pouco mais do aluno em coordenação, pé e mão, como a gente fala no jargão da aviação. Então, a formação era mais difícil. Hoje está mais fácil de passar, digamos assim — diz Borille.
Outro ponto que abranda a formação atualmente é a classificação para operar determinados tipos de aeronave, conforme o especialista. Em alguns casos, dependendo do peso do modelo, não é necessário fazer um treinamento específico para esse tipo de avião.
Hoje, no país, em aeronaves com até 12.500 libras, o piloto não precisa de outras qualificações além da licença regular para atuar e da habilitação da respectiva classe (monomotor ou multimotor). Acima de 12.500 libras, é necessária formação específica para o modelo da aeronave que ele vai conduzir. No caso do King Air F90, atualmente, não é necessária formação específica para pilotar a aeronave.
Outros fatores
- Caixa-preta
Aeronaves como o King Air F90, que carregam menos de 10 passageiros, não têm a obrigatoriedade de ter caixa-preta pela legislação, segundo Borille. Fica a cargo da empresa que fabrica, mas o uso nesse tipo de equipamento não costuma ocorrer em razão do peso e dos custos de operação, segundo o especialista.
- Infraestrutura
Sobre a infraestrutura aérea no Brasil hoje, Borille afirma que as condições são boas, permitindo um bom tráfego de aeronaves. Já a estrutura de solo e de pista ainda é deficiente, não proporcionando a segurança ideal na avaliação do examinador.