Iniciada em novembro, a série TBT 2024 revisita coberturas marcantes de jornalistas de Zero Hora e Rádio Gaúcha neste ano. Repórteres e comunicadores relembram momentos da tragédia climática no Estado, grandes operações policiais e acontecimentos que chocaram o Rio Grande do Sul e o país.
Na terceira publicação, o fotojornalista Jefferson Botega conta detalhes de como foi presenciar um dos resgates mais dramáticos da enchente no Vale do Taquari: o de uma família inteira sendo retirada pelo telhado de uma casa coberta pela água em Lajeado.
Na manhã de 2 de maio, dezenas de pessoas ilhadas em Lajeado foram removidas por dois helicópteros do Corpo de Bombeiros e da Brigada Militar. Havia chovido a madrugada inteira e o rio Taquari subiu muito rápido. Um dos resgates mais dramáticos foi o de uma família que aguardava apreensiva em cima de um telhado.
A ação foi toda registrada por Botega, que estava acompanhando os salvamentos dentro de uma das aeronaves. O relato das equipes era de que a casa balançava bastante e corria risco de ruir a qualquer momento.
– O helicóptero tinha que ficar praticamente encostado no telhado. Foi um momento onde eu tive todos os sentimentos do mundo. Eu filmando, fotografando, ajudando eles a subir. (...) E dentro daquele helicóptero foi um choro sem fim daquela mãe que agarrava aquela menina de uma forma que eu nunca vi, de tão emocionada que estava”, relembra o fotógrafo.
A cena do resgate de Vanessa das Almas, 31 anos, da filha Valentina, cinco, da enteada Maria Vitória, sete, e do sogro Jorge Luís Ruschel, 59, foi exibida em todo o país.
Eu precisava entrar em um helicóptero daqueles para acompanhar um resgate. Claro que numa primeira abordagem não me deixaram, numa segunda abordagem também não me deixaram, mas eu não desisti”,
JEFFERSON BOTEGA
Fotojornalista de GZH
Por já ter servido na Base Aérea de Santa Maria há muitos anos, Botega tentou convencer o coronel a autorizá-lo a entrar na aeronave dos bombeiros.
– Virei para ele e disse assim: "Coronel, eu já voei de UH-1H, aquele helicóptero da Guerra do Vietnã." Quando eu falei isso, ele virou para mim já com um semblante diferente. (...) Aí ele disse: "Vem comigo!"
Os desafios do fotojornalismo na enchente
Botega comentou ainda sobre os desafios da cobertura da enchente, durante todo o mês de maio. Naquele período, o fotógrafo de Zero Hora passou por várias cidades para registrar a situação do Estado, como Eldorado do Sul, Lajeado, Porto Alegre, Cruzeiro do Sul e Arroio do Meio.
– O maior desafio de cobrir a enchente era fotografar na chuva. Porque o equipamento molha, tu te molha. Por mais que tenhamos capas, guarda-chuvas, era tanta chuva que tu acabava se molhando mesmo assim. (...) E o lado emocional. Além dessa coisa da chuva sem parar, do vento, das intempéries, o lado emocional (para controlar) era bem complicado. Tinha que desligar uma chave, fazer tudo que tinha para fazer. (...) E, depois, quando se fosse tomar um banho ou descansar, eu acho que aí o corpo sentia mais e tu acabava desabafando embaixo de um chuveiro ou deitado em uma cama, porque no outro dia tu sabia que tinha mais.
Produção: Laura Pontin
Supervisão: Gabriel Salazar