O produtor rural Clovis Garrastazu Xavier, 66 anos, morreu por infecção em decorrência de ferimento a faca, segundo laudo, diferentemente do apontado no atestado de óbito. Xavier deu entrada no Pronto-Socorro de Bagé em 12 de novembro e morreu na madrugada seguinte. O caso é investigado pela Polícia Civil, que afasta a possibilidade de crime.
Embora Xavier tenha chegado ao hospital relatando ter tentado suicídio, esfaqueando o próprio abdômen, a causa mortis oficial registrada por um psiquiatra da família foi infarto. Contrariando determinação legal, a Santa Casa de Caridade de Bagé não comunicou as forças policiais da entrada de um paciente com ferimento a faca, tampouco o falecimento, 14 horas depois da internação.
Um inquérito foi instaurado para apurar as circunstâncias da morte, a ausência de comunicado à polícia e o motivo de o atestado de óbito ter sido assinado por um médico que não pertence aos quadros da Santa Casa. A delegada Gabrielle Zanini cumpriu mandado de busca e apreensão na casa do ruralista, mas não encontrou a faca utilizada no golpe.
— Queríamos saber do que ele morreu. Agora ficou esclarecido que foi pela facada, que perfurou o intestino e causou infecção. Ainda falta o resultado do exame toxicológico, mas para mim está claro que era uma tentativa de suicídio, já que ele chegou ao hospital lúcido e dizendo que tinha tentado se matar — relata a delegada.
Engenheiro-agrônomo e sobrinho-neto do general Emílio Garrastazu Médici, presidente da República no regime militar, Xavier pertence a uma família tradicional de Bagé. A morte, tornada pública somente dois dias após o enterro, causou comoção no município. Ele era casado com a agrônoma Maria Regina Goulart Garrastazu Xavier, coordenadora de um posto de saúde municipal e recém-eleita vereadora com 1.272 votos. No momento da facada, Xavier estava sozinho em casa.
Após a conclusão do laudo, a investigação agora busca esclarecer as supostas falhas ocorridas na Santa Casa. Segundo a delegada Gabrielle, o psiquiatra disse que assinou o atestado de óbito por uma suposta recusa dos médicos do hospital e levando em consideração o histórico do paciente e os sintomas relatados no prontuário, sem considerar o ferimento à faca.
Procurada, a Santa Casa afirmou que o médico plantonista, não concordando ou desconhecendo a causa da morte, "fica desobrigado à assinar a declaração de óbito". O hospital ainda disse que o documento "foi assinado pelo médico assistente, a pedido da família".
Nota da Santa Casa de Bagé:
"Esclarecemos que a responsabilidade pela assinatura do atestado de óbito cabe ao médico assistente. Na ausência deste, a obrigação recai sobre o médico substituto. No entanto, é importante ressaltar que, caso o médico substituto desconheça as causas do óbito ou não concorde com as causas alegadas, não é obrigado a assinar o documento, podendo, em vez disso, solicitar a Verificação de Óbito para esclarecimento.
Esclarecemos que, no caso em questão, o médico plantonista, não concordando ou desconhecendo a causa do óbito, fica desobrigado à assinar a declaração de óbito, que foi assinada pelo médico assistente, a pedido da família."