
As soluções para evitar cheias não podem ser pensadas isoladamente, cidade por cidade. Esse foi um dos principais recados deixados pelos holandeses para a comitiva da prefeitura de Porto Alegre e do governo do Estado, no segundo dia da missão conjunta que realizam na Holanda.
Na localidade de Veessen, na manhã deste sábado (22), a comitiva conheceu um canal de oito quilômetros com diques que foi construído ao lado do rio que cruza a região. O objetivo do canal não é proteger diretamente Veessen, mas evitar que a perda de velocidade do rio naquela área, durante uma cheia, gere represamento e destruição em localidades situadas mais acima do curso d’água.
Em tempos normais, o canal de Veessen, construído ao lado do rio, fica seco. Se precisar ser utilizado (os holandeses estimam que isso ocorra a cada 75 anos), comportas serão abertas e desviarão parte do rio principal para o canal secundário, evitando represamentos.
Para garantir que as obras sejam pensadas regionalmente e não apenas na questão municipal, a Holanda conta com 21 conselhos regionais de águas. Com membros eleitos democraticamente pela comunidade, os conselhos cobram impostos e aplicam o dinheiro em obras de proteção regional. Para garantir a igualdade regional, áreas com pouco risco de desastre financiam a proteção de áreas de maior risco no país.
— A aliança trabalha em uma base de solidariedade. O governo nacional e os conselhos financiam juntos os projetos. Caso contrário, áreas como a Zelândia, no sul e no leste dos Países Baixos, que estão em maior perigo, enfrentariam um problema financeiro impossível — Marijin Ornstein, integrante da Autoridade Regional de Águas.
O governador Eduardo Leite disse, neste sábado, ser cedo para apontar quais projetos holandeses podem ser replicados no Rio Grande do Sul, destacando contudo a visão sistêmica da gestão da água nos Países Baixos.
— Pelo que conversamos com especialistas que nos acompanham, eles trabalham com a visão sistêmica de diversos rios e diversas intervenções. Neste projeto, são 34 intervenções feitas ao longo dos rios para ajudar a reduzir níveis de enchentes. E, sim, parece se aplicar para o nosso caso, em algumas situações — disse Leite, ao fim das visitas.
Ao avaliar as atividades do segundo dia de missão, o prefeito Sebastião Melo valorizou a força dos conselhos regionais de água holandeses. Melo admitiu também que é preciso reforçar os programas de educação ambiental em Porto Alegre.
— Eles têm aqui (na Holanda) esses comitês das águas. Nós temos os comitês das bacias (no RS). Aqui, tratam isso como uma coisa muito importante. É importante porque, às vezes, uma obra que é feita numa cidade vai ter uma interferência em outra. E mesmo que ela não sirva aquela cidade, mas tem essa colaboração e essa compreensão federativa que se aquela obra não for feita naquela região, vai afetar a outra — disse Melo.
O sistema visto pela comitiva gaúcha em Vasseen é um dos 34 que integram o Room for the River, programa que está ampliando as áreas destinadas aos rios no país. Em outras palavras, parar de lutar contra os rios e entregar mais espaços para que eles corram sem provocar danos.
Resumo da agenda da missão
Agenda informada pelo governo do Estado, com possibilidades de atualizações
20/2 - Quinta-feira
Chegada a Haia (Holanda)
21/2 - Sexta-feira
Reunião com a RVO – Netherlands Enterprise Agency.
22/2 - Sábado
Visita a exemplo de aplicação do conceito Room for the River na cidade de Veesen.
Visita ao projeto Room for the River em Nijmegen.
23/2 - Domingo
Visita técnica ao Zand Motor (motor de areia).
Visita ao museu da grande enchente de 1953.
Visita às barreiras contra enchentes construídas após a tragédia de 1953.
24/2 - Segunda-feira
TU Delft: apresentação de projetos de resiliência urbana.
Deltares: pesquisa em proteção contra inundações.
Flood Proof Holland: visita a locais com proteções temporárias contra enchentes.
25/2 - Terça-feira
Prefeitura de Rotterdam: reunião com o conselho municipal sobre cidades resilientes e arquitetura, além de tour pelos principais pontos da cidade resiliente.
Waterschappen Hollands e Delta: agenda sobre gestão da água.
26/2 - Quarta-feira
Ecoshape: acompanhar visita técnica e conhecer soluções baseadas em alternativas utilizando a natureza como aliada
Retorno da comitiva do governo do Estado a Porto Alegre
27/2 e 28/02 - Quinta-feira e sexta-feira
Agenda sob responsabilidade da prefeitura de Porto Alegre, ainda em tratativas