O perfil Choquei, que tem 20,6 milhões de seguidores no Instagram e 6,7 milhões no X (antigo Twitter), se manifestou nesta quinta-feira (28) sobre o suicídio de Jessica Vitória Canedo, de 22 anos. Ela foi alvo de ataques após a divulgação de supostas conversas dela com o youtuber Whindersson Nunes, que indicariam um relacionamento entre os dois, o que foi desmentido por ambos.
Na publicação, o administrador da página afirma que "lamenta profundamente" o ocorrido com a jovem e se solidariza com a família, por isso, os perfis não haviam feito qualquer publicação desde a notícia da morte.
"Nesta quinta-feira, dia 28 de dezembro, o proprietário do perfil Choquei prestou esclarecimento à Polícia Civil de Minas Gerais e apresentou fatos e documentos que contribuem para elucidar o episódio e dar a real dimensão do papel da Choquei no caso. Foram fornecidas provas sobre o fato gerador da notícia falsa – que foi publicada originalmente por um outro perfil e republicada posteriormente pela Choquei – e foram disponibilizadas imagens de diálogos que mostram os procedimentos adotados assim que a falsidade foi descoberta, como a retirada imediata do conteúdo falso republicado", diz a nota oficial.
"Neste momento, a Choquei passa por um profundo processo de reavaliação interna dos métodos adotados visando a implementação de filtros e códigos de conduta para evitar que episódios dessa natureza voltem a acontecer. A Choquei está a disposição para contribuir com os órgãos de investigação, assim como colaborar para o aprimoramento do setor de notícias online. Reiteramos nossa solidariedade e total apoio à família de Jéssica Vitória Canedo", conclui o texto. A página é administrada pelo fotógrafo Raphael Sousa.
Cyberbullying
O caso trouxe à tona os impactos do cyberbullying para a saúde mental. Para a psicóloga de orientação psicanalítica, Pietra Manzoli, o bullying — potencializado pelo cyberbullying nas últimas décadas — é ligado diretamente a algo muito próprio do ser humano.
— Todos nós nos constituímos psiquicamente a partir do outro. Ou seja, desde muito pequenos nós formamos a visão que temos de nós mesmos a partir do que o mundo nos diz sobre nós, se diz que somos bonitos, feios, bons, maus, engraçados. Dependemos do outro para construir a nossa própria identidade — reflete.
A internet, segundo Pietra, facilita o esquecimento de que, do outro lado da tela, também está um ser humano, que precisa fazer um trabalho muito complexo para constituir sua própria identidade e filtrar aquilo que vem de fora.
— Mas, como temos a tendência de ver aqueles que se expõem na internet como “menos humanos”, quase descorporificados, colocamos eles no lugar de grandes “lixões”. Como se pudéssemos colocar tudo aquilo que sentimos e que não conseguimos digerir para eles através das ofensas. As nossas emoções difíceis desaparecem das nossas vistas, mas afetam, e muito, o outro em que elas chegam— explica a psicóloga.
Quando ouvimos uma ofensa, de acordo com Pietra, é muito árduo o trabalho para entender que o dito pelo outro não nos diz respeito. Mas ter este discernimento não é um processo fácil, segundo ela.
— Precisamos, antes de tudo, ter uma boa noção de “o que sou eu” e “o que é o outro”. Mais complexo que isso: precisamos ter um “arsenal” de coisas boas que o mundo já disse sobre a gente guardado dentro de nós, que sirvam de evidência interna para conseguirmos pensar que aquilo que está sendo dito sobre nós não é verdade. Nem sempre temos essas proteções. E é mais difícil para quem é mais jovem, crianças e adolescentes, porque a noção de eu/outro ainda é incipiente — pontua.
Relembre o caso
Jéssica Canedo, 22 anos, tirou a própria vida na sexta-feira (23). Nos dias anteriores, ela havia sofrido ataques virtuais após a divulgação de supostas conversas da jovem com o humorista Whindersson Nunes, o que indicaria um relacionamento, negado por ambos.
Em vídeo publicado nas redes sociais, depois do falecimento da mineira, o humorista lamentou o ocorrido e defendeu a criação de uma lei que gere punição a páginas que não conferem a veracidade antes de publicar os fatos. Segundo a família da estudante, ela “não resistiu à depressão e a tanto ódio”.
Procure ajuda
Caso você esteja enfrentando alguma situação de sofrimento intenso ou pensando em cometer suicídio, pode buscar ajuda para superar este momento de dor. Lembre-se de que o desamparo e a desesperança são condições que podem ser modificadas e que outras pessoas já enfrentaram circunstâncias semelhantes.
Se não estiver confortável em falar sobre o que sente com alguém de seu círculo próximo, o Centro de Valorização da Vida (CVV) presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo e anonimato. O CVV (cvv.org.br) conta com mais de 4 mil voluntários e atende mais de 3 milhões de pessoas anualmente. O serviço funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados), pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil (confira os endereços neste link).
Você também pode buscar atendimento na Unidade Básica de Saúde mais próxima de sua casa, pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), no telefone 192, ou em um dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) do Estado. A lista com os endereços dos CAPS do Rio Grande do Sul está neste link.