A movimentação de retroescavadeiras, rolos compressores, patrolas e funcionários com equipamentos de perfuração na estrada de chão que leva ao Cristo Protetor de Encantado, no Vale do Taquari, demonstra que as obras relacionadas ao monumento ainda não foram concluídas. Além de avançar com o processo de pavimentação asfáltica do caminho que liga a Lagoa Garibaldi ao ponto turístico, é preciso finalizar o pedestal, instalar o elevador e o vidro do mirante, além de iniciar a construção da infraestrutura necessária para receber os visitantes.
Localizado no Morro das Antenas, a cerca de oito quilômetros do centro de Encantado, o Cristo Protetor já recebeu cerca de 86 mil visitantes desde maio de 2021 – sendo quase 11 mil apenas nos finais de semana do último mês. A parte artística da escultura foi finalizada em abril deste ano e, de acordo com o gestor do monumento Fabrício de Medeiros, a moldura do coração, que será um mirante com vista panorâmica do município, também já está pronta.
Medeiros afirma que o vidro do coração será colocado em duas semanas, mas, para instalar o elevador que levará os visitantes até o mirante, é necessário ter energia elétrica trifásica –o que depende do avanço das obras de pavimentação da estrada.
— A concessionária de energia só vai colocar os postos depois que a sub-base da estrada estiver pronta. Enquanto isso, continuamos com visitações aos finais de semana, mas como a estrada está em obras, durante a semana não é aberto — comenta, acrescentando que, do centro de Encantado até a Lagoa Garibaldi, a estrada é asfaltada, mas o trecho de acesso à estátua, não.
Ana Delsa Tronco Civardi, engenheira civil responsável pelo projeto e pela fiscalização da obra de pavimentação asfáltica da estrada que leva ao Cristo Protetor, explica que esse caminho era bastante estreito e precário, com cerca de cinco metros de largura e vegetação no entorno. O trabalho no local começou no final de junho, e a previsão é de que seja finalizado em março de 2023, mas o andamento depende muito do tempo, que precisa permanecer estável, ressalta Ana.
Agora, as equipes trabalham com máquinas pesadas de segunda a sexta-feira para melhorar o acesso, fazendo o alargamento da via. O novo trecho, de 2,4 quilômetros, se estende da entrada até uma área antes do caminho para o monumento, que é onde ficará o Jardim de Acolhimento (saiba mais abaixo). A estrada terá cerca de 10 metros de largura, sendo sete metros de pista e três metros na lateral para área de caminhada e ciclovia.
— Tem que escavar, aterrar, então se faz a parte de drenagem e, depois, se faz as diversas camadas necessárias para executar o asfalto. O alargamento está quase concluído, estima-se que até o final de setembro já esteja bem delimitado o traçado da estrada. A previsão é de que a partir de novembro já possa ser colocada a rede elétrica — afirma a engenheira civil.
Ela enumera ainda que, depois que o asfalto for concluído, será preciso ajustar as calçadas, os acessos para cadeirantes e a pintura da via. Segundo Ana, essa obra recebeu R$ 4 milhões do governo do Estado, além de cerca de R$ 3 milhões oriundos de um financiamento feito pela prefeitura. No total, a pavimentação do trecho deve custar em torno de R$ 7,6 milhões, então também contará com recursos próprios do município.
Cronograma
De acordo com Fabrício de Medeiros, a próxima etapa é a finalização do pedestal do Cristo Protetor. Em seguida, entre o final deste ano e início de 2023, a ideia é começar a construção do complexo, que vai ter banheiros, lojas, ambulatório, espaços de alimentação, bilheteria e capela.
— Já melhoramos a infraestrutura para receber os visitantes com contêineres, ampliamos a bilheteria, criamos um espaço para uma loja e mais banheiros. Uma artista fez uma pintura há duas semanas também — relata o gestor.
O elevador deve ficar pronto antes do complexo, já que a obra deve levar entre 10 e 12 meses para ser totalmente concluída. Medeiros explica que ainda não é possível estimar uma data de inauguração, pois os recursos são oriundos de doações e do valor arrecadado com a venda de ingressos aos visitantes. Até agora, foram gastos cerca de R$ 3,5 milhões no monumento:
— Todo o Cristo foi construído por meio de doações e da bilheteria, não tem dinheiro público no projeto do monumento. Estamos buscando parcerias, patrocinadores e mais doações para que possamos finalizar. E o movimento também aumentou, estamos tendo um aumento gradativo, mês a mês. Em agosto, recebemos mais ou menos 11 mil pessoas aos finais de semana, graças ao trabalho voluntário da Associação Amigos de Cristo.
O gestor comenta que o boom de visitas ocorreu quando os braços e a cabeça do Cristo foram erguidos. Desde então, busca-se formas de profissionalizar o processo de administração, pensando no local como um elemento de turismo, que vai ter capacidade para 8 mil pessoas.
Jardim do Acolhimento
Junto à construção do complexo, também será executado o projeto do Jardim do Acolhimento, que ocupará uma área de 30 mil metros quadrados na subida ao Cristo Protetor. O prefeito de Encantado, Jonas Calvi, comenta que a pavimentação asfáltica segue até o início desse espaço, onde haverá uma rótula, e não será permitida a passagem de veículos - que serão encaminhados a um acesso lateral.
— Aqui vai ser uma complementação da estátua do Cristo, um Jardim do Acolhimento. O Cristo está de braços abertos para a comunidade, e aqui é um espaço para receber quem está vindo para o Cristo Protetor, para começar a desacelerar. Vai ter um pórtico e vai ser tudo natureza, sem tirar árvores — esclarece.
Conforme o prefeito, o jardim deve avançar até a parte de bilheteria, banheiros e estabelecimentos comerciais, que antecede o pedestal do Cristo – onde haverá um espaço para missas. Calvi também destaca que o Cristo foi construído durante a pandemia e sem recursos públicos, apenas com a ajuda da comunidade, e que a criação do monumento mudou tudo no município. Ele resume o impacto não em Encantado, mas em toda a região do Vale do Taquari, com uma brincadeira:
— É a.C. e d.C., antes do Cristo Protetor e depois do Cristo Protetor. A concepção das pessoas mudou, a cultura mudou. Nós não tínhamos restaurantes que abriam aos domingos, guia de turismo, conselho ou secretário de turismo. Para que Encantado ia ter isso? Temos alguns pontos (turísticos), mas nada muito além do que em qualquer cidade do Interior que tem o seu cotidiano. Agora mudou.
As mudanças, aponta, ocorreram com muita rapidez. De abril para agosto, foi preciso alterar a forma de pensar o município. Também foi criado um plano com o objetivo de aumentar a mão de obra na região, já que, em pouco mais de um ano, foram abertas cerca de 327 empresas em Encantado – nos setores de indústria, comércio e prestação de serviço.
O comportamento dos moradores também se modificou. Calvi ressalta que o Cristo não é da prefeitura, da associação ou de um grupo restrito de pessoas, mas sim da comunidade, que tem essa sensação de pertencer ao local. Além disso, o município passou a ser frequentado por muitos turistas.
— É uma dificuldade porque hoje nós não estamos preparados para isso. Nós precisamos de muita mão de obra: frentista, encanador, eletricista, profissional de TI, borracheiro, garçom. Tudo está gerando emprego. Aí começam os nossos desafios, porque acaba aumentando a demanda por atendimento de saúde e educação, mas tudo isso a gente vem trabalhando — afirma.
O prefeito enfatiza ainda que há muito cuidado com a preservação da natureza no entorno do monumento. Apesar das limitações para a instalação de estabelecimentos comerciais, a ideia é que o Cristo não seja apenas uma atração para religiosos e para visitas rápidas:
— Nós queremos fazer esse diferencial, segurar mais as pessoas aqui, no Jardim de Acolhimento, oferecendo opções de comércio. A gente quer que as pessoas venham, façam suas orações e permaneçam mais tempo, contemplando esse espaço público.
Como visitar
As visitas guiadas à obra do Cristo Protetor ocorrem aos sábados, domingos e feriados, das 9h às 17h. Há necessidade de agendamento prévio somente para grupos acima de 10 pessoas ou excursões. O valor da visita é de R$ 30 por pessoa, mas crianças de até 12 anos não pagam. Telefones para contato e mais informações estão disponíveis neste site.