Acredite, dos 497 municípios gaúchos, 285, ou seja, mais da metade, não possuem estação rodoviária. Isso quer dizer que a população que necessita fazer viagens intermunicipais, muitas vezes, precisa esperar pelo transporte em paradas de ônibus comuns, sem venda de passagem organizada, sem banheiro ou qualquer tipo de estrutura mínima. Na região metropolitana, a rodoviária de Porto Alegre é a referência para quem precisa partir para outros destinos, já que, além da Capital, apenas São Leopoldo e Novo Hamburgo dispõem de estações. Em Canoas, há um ponto de embarque e desembarque, com um posto de venda de passagens da Veppo (concessionária que administra a rodoviária de Porto Alegre).
Desde 2012, 113 estações rodoviárias encerraram as atividades no Rio Grande do Sul. Em alguns casos, donos das concessões não tiveram interesse em renovar os contratos e as novas propostas não atraíram candidatos para a atividade, considerada pouco rentável. Segundo o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), ainda para este ano, é previsto o lançamento de 200 editais. O primeiro lote é composto por 70, sendo que cinco já foram publicados: Taquara, Arroio do Meio, Arroio Grande, Rio Pardo e São Jerônimo.
Embarque e desembarque
No mesmo prédio onde funciona a Secretaria Municipal da Fazenda, no Centro de Canoas, está o ponto de embarque/desembarque de passageiros do município. O local, segundo placas descritivas fixadas em uma parede, foi inaugurado em 1996 e teve início da operacionalidade em 2001. Apesar da vantagem de ter um abrigo, com bancos e até venda de passagens, não qualquer comércio no local. No sábado, as passagens são vendidas até as 14h, no domingo, até a 13h.
A aposentada Terezinha Neis, 68 anos, lembra do domingo que chegou ao posto sem passagem. Ao acessar o ônibus, o motorista teria alegado que ela não tinha passagem e não poderia embarcar, ela precisou justificar que não havia comprado, porque o posto de venda estava fechado. Em uma sexta-feira à tarde, quando conversou com a reportagem, Terezinha havia saído de Cachoeirinha, onde vive, usando transporte por aplicativo, e foi até Canoas. Ela precisava alcançar o ônibus que iria para Feliz, pois se fosse até Porto Alegre, como habitual, correria o risco de perdê-lo.
— Saí da minha casa no Distrito Industrial de Cachoeirinha e vim de carro até aqui. Como o motorista era conhecido me cobrou R$ 28, mas o valor original seria R$ 36. Se na minha cidade tivesse uma estação, seria muito melhor — relata.
À beira da BR
A distância entre Eldorado do Sul e Porto Alegre é de apenas 15,7km. Sem rodoviária, os passageiros aguardam pelas linhas de ônibus que vão a Pelotas, Rio Grande, Arroio dos Ratos, Camaquã, Porto Alegre, entre outros destinos, na entrada da cidade ou nas proximidades da BR-290. Os dias de frio e chuva são os mais sofridos. A dona de casa Juliana da Silva, 23 anos, diz que evita pegar ônibus em situações assim. No dia da visita da reportagem, era uma entre tantos outros passageiros que aguardavam ônibus na Avenida Getúlio Vargas para ir a Porto Alegre. As passagens são adquiridas e pagas diretamente aos cobradores, dentro do ônibus.
— Da minha casa até a parada mais próxima são 30 minutos de carro. Tenho medo de ficar na faixa, medo de assaltos e acidentes — explica a moradora de Guaíba City, em Eldorado do Sul, acompanhada do filho de 5 anos, Yuri.
E assaltos são comuns por ali. De acordo com taxista Rodrigo Rossi, 39 anos, que atende em um ponto próximo de duas paradas de ônibus, à noite, as ocorrências são frequentes.
— Uma rodoviária traria melhorias para os passageiros e até para nós, taxistas, que ganharíamos um novo ponto — opina.
Fechada há cinco anos
Em 2014, após mais de duas décadas, Guaíba ficou sem rodoviária. A área onde antes funcionava o terminal tornou-se hidroviária e só atende aos passageiros do catamarã. Pelo menos uma vez por mês, a dona de casa Helena Canilla, 53 anos, vai da Barra do Ribeiro para Guaíba visitar parentes, fazer serviços de banco e pagamentos. Aguarda o ônibus na parada localizada na mesma calçada da Estação Hidroviária ou em bancos paralelos, fixados às margens do Rio Guaíba. Se chover, é preciso paciência.
— De dia até não tenho medo, porque tem movimento. Mas não tem apoio nenhum na volta, banheiro público só tem na praça — afirmou.
A aposentada Maria Lezi Nunes, 74 anos, moradora do bairro Passo Fundo, em Guaíba, lamenta que os parentes de Tapes precisem ir até Porto Alegre, para depois retornar até Guaíba, quando querem visitá-la. Ou é fazem dessa forma ou precisam descer na estrada.
— Eu venho aqui com frequência, usava muito a antiga rodoviária, faz falta ter um local para esperar — disse.