A presidente Dilma Rousseff recebeu, nesta quinta-feira, o apoio do ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1980, Adolfo Pérez Esquivel, contra o processo de impeachment que tramita no Senado. O uso do microfone do plenário da Casa pelo argentino causou revolta entre senadores da oposição.
Esquivel falou em "possível golpe de Estado" sentado à Mesa Diretora do plenário durante sessão presidida pelo senador petista Paulo Paim (RS). As palavras foram ditas ao lado de Paim e de outros senadores petistas, que cercaram o Nobel durante o pronunciamento.
– Está muito claro que o que se está preparando aqui é um golpe de Estado encoberto, o que nós chamamos de um golpe brando – afirmou Esquivel, após o encontro no Palácio do Planalto.
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O ganhador do prêmio da Paz disse que veio prestar "solidariedade e apoio para que não se interrompa o processo constitucional de Brasil porque isso seria um dano não apenas para o povo brasileiro como para toda a América Latina".
– Seria um retrocesso muito grave para o continente. Sou um sobrevivente da época da ditadura (militar na Argentina). Nos custou muito fortalecer as instituições democráticas. Aqui se está atacando as instituições democráticas – afirmou Esquivel.
Ele comparou o processo de impeachment de Dilma ao que ocorreu em Honduras e no Paraguai com as destituições dos presidentes Manuel Zelaya, em 2009, e Fernando Lugo, em 2012.
– Agora, a mesma metodologia, que não necessita das Forças Armadas, está sendo utilizada aqui no Brasil. A metodologia é a mesma, não há variação com o golpe de Estado nesses países. Países que querem mudar as coisas com políticas sociais são alvo dessa política de tratar de interromper o processo democrático.
Revolta
De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, o líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO), reagiu imediatamente e exigiu a retirada da palavra "golpe" dos registros das notas taquigráficas.
– Não podemos ser surpreendidos com essas montagens, não foi por acaso que esse senhor veio aqui fazer esse pronunciamento. Isso é uma estratégia que este plenário não admite. Essa situação é inaceitável. Nunca vi, com 22 anos de Congresso Nacional, as autoridades que nos visitam, sem ter o consentimento de todos os líderes, usarem o microfone para fazer pronunciamento – afirmou Caiado.
Sob pressão, Paim concordou com o pedido para retirar a expressão "golpe".
– Em nenhum instante, o regimento autoriza que a sessão do Senado possa ser interrompida para conceder a palavra a um não senador – afirmou o líder do PSDB, Cássio Cunha Lima (PB).
O líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE), respondeu:
– Entendo que isso cause urticária naqueles que são oposição. Estão aí pesquisas de opinião de que a população não aceita que o conspirador mor assuma – disse o petista, em referência ao vice-presidente, Michel Temer, que assumirá a Presidência interinamente no caso de o processo de impeachment de Dilma ser aberto pelo Senado.
*Com informações da Agência Brasil e Folha de S.Paulo