Burkina Faso seguia em choque neste domingo, depois do ataque extremista ocorrido na sexta-feira na capital, Ouagadougou, enquanto as autoridades continuam a busca por suspeitos do atentado que deixou 29 mortos.
"Estamos com medo. Quem não está com medo não é normal. Essas pessoas têm armas", afirma Souleymane Ouedraogo, que vive perto da área onde o ataque ocorreu. "O exército agora está aqui, mas mais pra frente...".
"As operações de busca continuam firmes", informou na noite de sábado o ministro do Interior, Simon Compaoré, e as forças de ordem continuavam buscando suspeitos na manhã deste domingo, segundo uma fonte próxima ao caso.
Além disso, os controles nos hotéis foram reforçados.
Os corpos de três extremistas foram identificados, segundo Compaoré.
Várias testemunhas falaram sobre a presença de duas mulheres e três agressores, embora as autoridades neguem a tese da presença de mulheres.
No local do ataque, o perímetro de segurança foi ampliado e era possível ver investigadores trabalhando com provas, segundo um jornalista da AFP.
Ao todo, 29 pessoas, entre elas ao menos 13 estrangeiros, foram assassinadas e cerca de 30 ficaram feridas no ataque jihadista, segundo o balanço do governo.
A maioria das vítimas eram brancas, segundo uma fonte próxima à promotoria, que informou sobre a presença de ao menos cinco burquinenses entre os mortos. Seis canadenses, dois franceses, dois suíços, um americano, um português e um holandês foram identificados entre os estrangeiros.
Militares e gendarmes mantinham afastados grupos de espectadores que foram "chorar os mortos e entender o que aconteceu", contou Jean Compaoré.
"Todos nós comemos do mesmo prato", disse Compaoré, que é cristão. "Em Burkina não temos problemas religiosos, vivemos juntos. Sem problemas étnicos, há 63 grupos étnicos que vivem juntos. Os extremistas vêm de fora".
Ao lado dele, Lamnine Thietambo, muçulmano, concorda: "Somos amigos, os extremistas não representam a religião, são descrentes, matam todo mundo, pessoas inocentes".
"Vamos ficar mais atentos, mas isso não pode nos impedir de viver com nossos irmãos, seja você negro ou branco, cristão ou muçulmano", garantiu Daouda Moumoula.
- Golpe na economia -
A indignação dos presentes no local vai num sentido diferente. "Nos dizem que eles [os extremistas] vêm do Níger. Normalmente as fronteiras são controladas. Como isso pode ocorrer?", pergunta Compaoré.
Enquanto isso, outros criticam as forças de ordem. "Demoraram muito a chegar", disse um homem que preferiu manter anonimato.
Segundo vários relatos, os militares burquinenses demoraram muito para se organizar. Na noite do ataque, os primeiros a chegar - muitos pelo sentido de dever, sem receber ordens de superiores - nem sequer tinham armas de alcance.
Um homem garantia que "as armas dos militares são piores que as dos terroristas. É preciso modernizar o exército".
Enquanto isso, muitos temem o impacto econômico dos atentados na economia do país. "Os turistas eram nossos amigos. É triste, todos esses mortos. Para nós, vai ser difícil agora", afirma Guillaume Soro, vendedor de rua.
Em outro bairro, Lassané Kabré considera que "no plano econômico, vamos sentir o impacto. É um momento ruim, porque saímos de uma crise que nos enfraqueceu em todos os níveis", acrescenta, em relação ao levantamento popular de 2014 que tirou do poder Blaise Compaoré e levou a uma transição política difícil neste país pobre do Sahel de 18 milhões de habitantes.
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