Depois de seis meses no cargo de comandante da Força Nacional de Segurança, o coronel da Polícia Militar (PM) de Santa Catarina, Nazareno Marcineiro, pediu demissão do posto responsável pelo planejamento da segurança das Olimpíadas do Rio de Janeiro de 2016. Em entrevista ao DC, o ex-comandante-geral da PM catarinense explica o que o levou a sair da função e admite que havia desacordos entre ele e o comando da Secretaria Nacional de Segurança Pública, ligada ao Ministério da Justiça, que tem como secretária Regina Miki.
Qual foi a motivo da sua saída? Foi um pedido do senhor?
Foi um pedido meu, eu que solicitei a exoneração porque estava em desacordo com uma ou outra coisa que estava acontecendo. Fui embora.
O que estava em desacordo?
Não posso entrar em detalhes, senão teria que ser antiético. Teria algumas coisas que não poderia explicitar. Em linhas gerais, temos todo o planejamento das Olimpíadas feito, uma série de coisas que são necessárias serem feitas e a gente percebia que quem deveria estar cuidando disso estava mais preocupada em se manter no poder do que se engajar. Também entendi que eu não era mais tão importante no processo, então decidi voltar para Santa Catarina.
O que o senhor pretende fazer?
A princípio volto para Santa Catarina, tenho um ciclo de oportunidades. Tenho formação em Engenharia de Produção e experiências. Se surgir alguma oportunidade vou analisar.
Você ficou desapontado com o que encontrou em Brasília?
Vim com a expectativa, todo o andamento do trabalho durante os primeiros meses foi muito bom. Fiz todo o planejamento, que tem todo um grau de detalhamento que é de encher os olhos de qualquer um que veja. E todo esse planejamento vai ainda ser executado. Aqueles que compõem a Força Nacional são muito aptos para executar uma operação dessa complexidade. Sob o ponto de vista político é que começa a pegar um pouquinho, todo esse cenário. Principalmente pessoas que estão mais à frente na secretaria que deveriam estar muito preocupadas em se preparar para as Olimpíadas, afinal faltam sete meses. As pessoas estão mais preocupadas em se manter no poder do que realizar o trabalho.
Você tentou remediar e conversar para seguir na função?
Foi trabalhado. Esse é o tipo da coisa que não pode ser feito por impulso, tem que ser trabalhado, de alta complexidade. Foi um assunto bem trabalhado.
Você levou duas pessoas para trabalhar junto contigo em Brasília. Elas devem voltar também?
Uma delas pretende ficar. A outra já voltou. O coronel Moreira pretende permanecer.
Como fica a preparação para as Olimpíadas?
Vai prosseguir normalmente. É claro que alguém que esteja à frente do planejamento no momento de executar tem uma série de facilidades. Mas a Força não vai perder a continuidade, ela segue do mesmo jeito. Não é porque eu saí que alguma coisa esteja comprometida. E também a minha postura é a seguinte, se por ventura o meu sucessor precisar de alguma coisa de mim, não vou me furtar de ajudar.
Você tentou implantar em Brasília os modelos de gestão que foram instalados aqui em Santa Catarina?
Trouxe daí minha cabeça. É um conhecimento que tenho dos meus estudos. O que chamo de planejamento para as Olimpíadas está num grau de detalhamento muito parecido com aquele que eu fiz em Santa Catarina.
O senhor está frustrado?
Não, muito pelo contrário, estou com uma sensação de dever cumprido muito grande. É uma pena que eu não execute o planejamento feito, mas o meu foco principal era concluir o planejamento. Eu estava muito focado nisso, no engajamento da equipe, na busca de recursos humanos. Tive a oportunidade de conversar com todos os comandantes, havia um alinhamento bom. Mas é exatamente aí que começa a aparecer o problema, porque estava indo tudo muito bem.
Esse incomodo era diretamente com a secretária ou com outras pessoas envolvidas no processo?
Não, era direto com a secretária a minha relação.
Era uma incompatibilidade entre vocês dois?
Não sei se poderia chamar assim.
Uma discordância?
Algo por aí.