Fruto de uma mobilização de voluntárias para levantar fundos para sua construção, inaugura nesta quarta-feira a nova UTI do Hospital da Criança Santo Antônio, na Capital. Serão 10 novos leitos para receber recém-nascidos ou jovens com menos de 18 anos, que se somam aos 30 da unidade de tratamento intensivo já em operação no hospital. São duas as principais novidades: a primeira é o conceito mais lúdico e humano do espaço, com quartos decorados e acomodação para a família acompanhar o paciente. Cada leito é batizado com o nome de um dos pássaros mais populares no Rio Grande do Sul, com painéis multicoloridos retratando situações da vida dos animais.
Em vídeo, Claudia Ricachinevsky, chefe da UTI do hospital, explica como será a nova unidade pediátrica:
- O ambiente colorido e a presença da família amenizam a dor e são importantes no processo de recuperação do paciente - explica Claudia Ricachinevsky, chefe da UTI do Hospital do Santo Antônio.
A outra novidade é que todos os leitos estarão em quartos isolados, o que possibilitará atendimento de pacientes com doenças contagiosas, como tuberculose ou varicela. Na UTI do Santo Antônio em funcionamento até então, apenas um leito era isolado.
- Isso possibilitará atendimento mais ágil de recém-nascidos com má-formação congênita, por exemplo, vindos diretamente da maternidade para iniciar imediatamente um tratamento - explica Claudia.
O atendimento será qualificado em razão da alta tecnologia dos equipamentos adquiridos, garante ela, como respiradores e incubadoras equipadas com balança e medidor, que evitam a retirada do bebê com estado de saúde fragilizado. A UTI irá tratar principalmente pacientes vindos de procedimentos de alta complexidade, como cirurgias cardíacas e de malformações digestivas e urológicas, além de transplantes de coração, fígado e rins.
A necessidade de ampliar o atendimento vinha do esgotamento da capacidade atual da UTI do Santo Antônio. Por dia, o setor vinha rejeitando cerca de cinco pedidos de atendimento. A nova estrutura contará com 47 enfermeiros e auxiliares e 14 médicos.
Na sexta-feira, agentes de Saúde da prefeitura de Porto Alegre e do Estado visitarão as novas instalações, para cadastrar a unidade a atender pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A expectativa é que 60% dos atendimentos sejam feitos pelo sistema público, e 40% no particular - mesmo formato na UTI pediátrica em funcionamento.
Entrevista: Nora Teixeira, Presidente do Grupo Voluntárias pela Vida
O custo de R$ 3,7 milhões para a construção da nova UTI foi coberto com os recursos arrecadados pelo grupo Voluntárias pela Vida, composto por 10 mulheres da sociedade gaúcha. A mobilização começou em junho do ano passado, após algumas delas visitarem, a convite do médico Fernando Lucchese, chefe do Serviço Cardiologia Pediátrica, a UTI do Santo Antônio e conhecerem a necessidade da ampliação.
Como conseguiram arrecadar o valor necessário tão rapidamente?
Procuramos empresários para vender convites para uma festa que ocorreria em novembro do ano passado, ao custo de R$ 1.250 cada, e tivemos sucesso. Tivemos, no evento, doações espontâneas e leilão de algumas peças de arte ou enviadas por pessoas famosas às quais tínhamos acesso, como uma gaita do Borguetinho, litogravuras do Iberê Camargo e um vestido da Gisele Bündchen. Ao final da festa, havíamos arrecadado R$ 3,9 milhões, mais do que precisávamos, o que nos possibilitou ampliar o projeto.
Por que o Grupo se sensibilizou com este projeto?
O Fernando Lucchese nos chamou para conhecer a UTI do Santo Antônio e conhecer as necessidades de ampliação. Quando estávamos lá, alguns bombeiros vinham trazendo uma criança em estado gravíssimo para o atendimento. Ela conseguiu se salvar, mas em razão da lotação, muitas não têm a mesma sorte. Todas somos mães, ficamos sensibilizadas.
Por que a opção de arrecadar fundos em uma campanha, em vez de usar um programa de dedução de imposto, por exemplo?
Porque demoraria de seis meses a um ano para termos uma definição. Muitas vidas seriam perdidas neste período. O tempo era valioso.
A senhora acha que a iniciativa privada precisa se envolver mais em projetos sociais?
O governo tem de fazer a sua parte, com grandes investimentos. Mas em pequenas melhorias, a sociedade pode apoiar, sim. Queremos mostrar aos empresários, com esse projeto, que participar de campanhas como essa vale a pena.