Ao mesmo tempo em que viu o valor da gasolina, da energia elétrica e de outras despesas subir consideravelmente neste ano, o caxiense também está recebendo menos em 2015. A indústria, que emprega mais de 80 mil trabalhadores na cidade, apresenta queda na massa salarial de 11% em 2015. No ano passado, o número de todos os salários pagos ao setor já havia caído 6,9%, apontam dados do Índice de Desempenho Industrial (IDI/Caxias).
A baixa no rendimento dos metalúrgicos, vale ressaltar, não é resultado apenas das demissões no setor, que atingiram a marca de cinco mil desligamentos em 2014 e devem se somar a mais 1,5 mil até o final deste mês. Descontos resultantes de flexibilizações de jornada e o corte das horas extras também corroem uma parcela do salário.
- Temos mais de 10 mil trabalhadores sobrando no mercado, entre demitidos e também os que estão voltando de Charqueadas, que estavam trabalhando no polo naval. Alguns deles estão retornando para o mercado com salários menores do que os de anteriormente, o que também impacta na massa salarial - acrescenta Getulio Fonseca, presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul (Simecs).
Essas quedas não influenciam apenas as famílias dos metalúrgicos e de outros segmentos industrias, como o plástico: dependentes desse rendimento, os comerciantes já registram perdas de 23% somente em 2015.
A diminuição da massa salarial dos trabalhadores da indústria não prejudica apenas as vendas novas: as antigas, que ainda estão sendo pagas, também ficam comprometidas. Com isso, a inadimplência em Caxias está aumentando.
Em média, cada mês deste ano encerrou com três mil novos inadimplentes na cidade, revela Analice Carrer, presidente da CDL, com base em dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). No ano passado, por exemplo, a média mensal de janeiro a março não passou de dois mil registros.
Atualmente, há um total de 67.441 inadimplentes em Caxias que, juntos, devem R$ 77 milhões. O tíquete médio de cada dívida é de R$ 1.138,71 e muitos devedores contam com mais de um registro no SPC.
Sem hora extra, salário diminuiu até 40%
A flexibilização da jornada de trabalho, em algumas empresas, não está sendo sinônimo de descontos diretos. Na Marcopolo, por exemplo, os trabalhadores compensarão as folgas mensais que estão tendo atualmente até 2016.
Isso, porém, explica o metalúrgico Valdecir Galdino, 49 anos, não significa que o salário está vindo da forma como era antes. O corte de horas extras, destaca, tem sido determinante no valor final dos salários recebidos.
- Os metalúrgicos estavam muito acostumados com as horas extras, porque é um adicional que vem de anos. O trabalhador acaba sempre contando com isso. Com o corte, em alguns meses, o salário chega a ficar 40% menor. E como iremos compensar essas folgas depois, sabemos que vamos ficar muito tempo sem receber hora extra de novo. Para quem trabalha em empresas que estão descontando as folgas, a situação é ainda pior - relata Galdino.
Além da diminuição da renda, Galdino destaca que o trabalhador em geral está tendo que lidar com muita pressão e incertezas:
- Até mesmo quem está conseguindo guardar algum dinheiro, acaba decidindo não gastar, porque não sabemos o dia de amanhã. O trabalhador está tendo que produzir em um clima muito ruim. Claro que entendemos que a situação está complicada para todo mundo, que está difícil também para o empregador - lamenta Galdino.
Metalúrgico há cerca de 25 anos, ele acredita que essa é a pior crise que vivenciou, já que outras, como a de 1992 e a de 2009, "foram mais rápidas e menos desgastantes".