A 13ª Vara da Justiça Federal do Paraná liberou nesta terça-feira os resultados da apuração do faturamento do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu como consultor de empresas investigadas na Operação Lava-Jato, que apura corrupção na Petrobras.
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A JD Assessoria e Consultoria, empresa de Dirceu, faturou pelo menos R$ 7,5 milhões em serviços a seis empreiteiras que são alvo da devassa promovida por Ministério Público Federal (MPF) e Polícia Federal (PF), conforme levantamento ao qual ZH teve acesso. No total, a JD Consultoria faturou R$ 29 milhões em consultoria para mais de 50 empresas.
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O juiz da 13ª Vara, Sérgio Moro, determinou em janeiro a quebra dos sigilos fiscal e bancário da JD e também da pessoa física de Dirceu. Nesta terça, Moro informou os resultados da investigação feita pela Receita sobre o patrimônio do ex-ministro e ex-deputado do PT.
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Os pagamentos
Repasses de empresas citadas* na Lava-Jato para a JD
OAS: R$ 2.441.150
Engevix: R$ 1.285.000
UTC: R$ 1.179.000
Camargo Corrêa: R$ 1.110.000
Egesa: R$ 820.000
Galvão Engenharia: R$ 700.000
Total: R$ 7.535.150
*Estas seis empresas aparecem numa lista de 23 com as quais a Petrobras cancelou contratos por serem citadas nas investigações da Operação Lava-Jato
Mas a lista de companhias que fizeram repasses à empresa de Dirceu e que têm alguma ligação com as investigações é maior. Inclui, por exemplo, a Egesa (repasse de R$ 820 mil) e a Jamp Engenheiros (R$ 1,46 bilhão). Fora da órbita das relações com a Petrobras, desponta ainda a EMS, mais generoso cliente da JD, com pagamentos de R$ 7,8 milhões. Esta empresa é investigada num esquema de produção de medicamentos para o Ministério da Saúde.
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O que o MPF e a PF investigam agora é se a JD realmente prestou serviços de consultoria ou eram apenas operações dissimuladas para encobrir dinheiro desviado de contratos com a Petrobras. A OAS, por exemplo, liberou R$ 2,4 milhões para a JD investimentos desde 2006, ano em que José Dirceu virou alvo das investigações do mensalão e que acabariam por levá-lo à prisão em 2013. Ao liberar o sigilo sobre os dados coletados pela Receita Federal a respeito da empresa de Dirceu, o juiz Sérgio Moro afirmou:
- Tratando-se de supostos crimes contra a administração pública, também se justifica o levantamento do sigilo, quando não há mais risco à investigação, considerando o interesse público existente.
A liberação dos dados ocorreu no dia de um dos depoimentos mais esperados da Lava-Jato, o do empresário Gerson Almada, vice-presidente da Engevix Engenharia. Ele está preso desde novembro numa cela da Polícia Federal em Curitiba e teria, no testemunho desta terça-feira, reiterado afirmativas anteriores de que sua empresa foi sistematicamente extorquida por políticos ligados ao governo federal.
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Almada confirmou que Dirceu prestou consultoria a sua empresa, no Exterior, mas não para obras ligadas à Petrobras. A Engevix teria se beneficiado das "boas relações" do ex-ministro em Cuba e países da América Latina e África.
Os advogados de Dirceu afirmam que ele efetivamente prestou os serviços de prospecção de negócios e intermediação de contatos para as empreiteiras. Em nota, Dirceu negou ter recebido recursos ilícitos. O ex-ministro diz não temer a transparência sobre seus negócios, mas classificou de "grave" a quebra de seu sigilo.
* Zero Hora