Ex-líder estudantil, ex-guerrilheiro, ex-ministro da Casa Civil no governo Lula e ex-deputado federal, José Dirceu se tornou um consultor muito bem pago após ter seu mandato cassado no Congresso por envolvimento no Mensalão. É o que mostra sua quebra de sigilo fiscal, liberada pela 13ª Vara da Justiça Federal de Curitiba, no âmbito da Operação Lava-Jato, que investiga corrupção na Petrobras.
Dirceu, que cumpre prisão domiciliar pelo caso do Mensalão, é um dos investigados pela PF e pelo Ministério Público Federal (MPF) do Paraná por consultoria prestada a empresas envolvidas na Lava-Jato. As empreiteiras, acusadas de desviar milhões de reais de contratos com a Petrobras, admitem ter pago para que o ex-ministro abrisse caminhos e facilitar contatos com governos no país e no Exterior.
Os serviços consistiam, na maioria das vezes, em apresentar autoridades que poderiam azeitar negócios das empresas, relatou Gerson Almada, executivo da empreiteira Engevix, que está preso na carceragem da PF em Curitiba e prestou depoimento ontem na 13ª Vara.
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A consultoria de Dirceu era uma forma disfarçada de propina? É o que a PF deseja saber. Zero Hora teve acesso aos dados da Receita Federal sobre as sete principais envolvidas na Lava-Jato. A empresa que Dirceu montou em 2006, logo após ser deixar o parlamento - a JD Assessoria e Consultoria - recebia pagamentos em sequência, como mostram os extratos fiscais.
- E pagamentos em sequência, muitas vezes, evidenciam técnica de lavar dinheiro mediante prestação fictícia de serviços - relata um dos investigadores da Lava-Jato.
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E não eram pagamentos de pequena monta. Da Galvão Engenharia (uma das investigadas na Lava-Jato e que tem diretores presos pela PF) a empresa de Dirceu recebeu, por exemplo, três repasses de R$ 25 mil e um de R$ 23 mil em apenas seis dias: de 21 a 27 de julho de 2009. Em agosto daquele ano o esquema se repete: quatro repasses, quase todos de R$ 25 mil cada. Em setembro, mais quatro repasses. Depois os pagamentos vão se espaçando, mas continuam até 2012, num total de R$ 700 mil. O mesmo acontece com a construtora OAS, que repassou R$ 2,4 milhões à consultoria de Dirceu entre 2010 e 2011.
Das envolvidas na Lava-Jato e que foram punidas com suspensão de contratos pela Petrobras, a JD prestou consultoria para a OAS, Engevix, UTC, Camargo Corrêa, Egesa, Galvão Engenharia. O total de repasses dessas empreiteiras à empresa de Dirceu soma R$ 7,5 milhões.
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Por meio de nota, assessores de Dirceu garantiram que ele efetivamente prestou serviços de "prospecção de negócios e intermediação de contatos" para empreiteiras. O ex-ministro condenou a liberação dos seus dados fiscais pela Justiça.
Foto: Reprodução/Delegacia da Receita Federal
* Zero Hora
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Humberto Trezzi / Brasília
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