Como a Petrobras pagou em 2008 US$ 1,18 bilhão por uma refinaria que em 2005 valia US$ 42,5 milhões? Isso ainda é um mistério investigado pela Justiça, mas uma pista foi fornecida por Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da estatal de petróleo brasileira e delator na Operação Lava-Jato.
A 13ª Vara da Justiça Federal do Paraná liberou, nesta quinta-feira, 35 arquivos com depoimentos prestados por Costa, uma das principais testemunhas da corrupção na Petrobras. Num dos interrogatórios, ele detalha a compra da refinaria de Pasadena - que ele mesmo define como um péssimo negócio - e confirma ter recebido suborno "para não causar problemas" na hora em que o negócio seria feito.
Costa é taxativo: para a Petrobras, era um bom negócio ter uma refinaria no Exterior, mas não a de Pasadena. Essa era feita para processar petróleo leve e a estatal brasileira trabalha com óleo pesado. Para a indústria de Pasadena trabalhar com o óleo pesado tipo marlin (usado pela Petrobras), teria de ser feita uma adequação técnica de US$ 1 bilhão ou US$ 2 bilhões.
O delator ressalta que, além disso, Pasadena era uma refinaria muito velha, das décadas de 20 ou 30 do século XX, nunca modernizada. E que o Texas tinha outras refinarias mais novas e com capacidade para refinar o petróleo usado pela Petrobras.
Costa diz que o lobby para a compra da refinaria americana por parte da Petrobras veio da empresa belga Astra Petróleo, uma das sócias da refinaria Pasadena.
- Que Fernando Baiano ofereceu US$ 1,5 milhão para "não causar problemas" na reunião de aprovação da refinaria de Pasadena. Que o declarante aceitou o valor e Fernando operacionalizou a disponibilização desse valor no Exterior. Que não sabe ao certo, mas acredita que o valor tenha sido bancado pela Astra Petróleo.
O delator afirma que ouviu que Fernando Baiano e o grupo de Nestor Cerveró (ligado ao PMDB) teriam dividido entre US$ 20 milhões e US$ 30 milhões para viabilizar o negócio de Pasadena.
Costa afirma que nunca foi feita a transformação técnica necessária para a refinaria de Pasadena processar óleo da Petrobras. Ela atua com petróleo da Nigéria, mais leve, "mas a lucratividade para a Petrobras seria muito maior se fosse feita a mudança apta a processar petróleo pesado".