Depoimento do doleiro Alberto Youssef, liberado na tarde desta quinta-feira pela 13ª Vara da Justiça Federal do Paraná, revela que José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, utilizou diversas vezes um avião Citation Excel do lobista Julio Camargo, um dos delatores do escândalo de corrupção na Petrobras.
É a primeira vez que um alto governante do PT é citado nas investigações da Operação Lava-Jato. Além de Dirceu, que foi condenado no processo do mensalão, o ex-ministro da Fazenda e também ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci é apontado por Youssef como um dos responsáveis pela ligação do partido com Camargo, suspeito de instrumentalizar o repasse de propina da empreiteira Camargo Corrêa para agentes públicos.
"O declarante (Youssef) acredita que há grandes quantias de dólares mantidas por Julio Camargo em contas no exterior e acredita que José Dirceu tenha uma relação 'muito boa' com Camargo, pois aquele utilizava a aeronave Citation Excel de propriedade deste", informa o documento.
"(Youssef) Destaca ainda que Julio Camargo possuía ligações com o PT, notadamente com José Dirceu e Antonio Palocci. Que não sabia dizer quantas vezes o avião foi utilizado por Dirceu e nem a razão do uso, mas pode afirmar que Camargo e Dirceu são amigos e que o avião foi usado depois do período em que Dirceu foi ministro da Casa Civil. Que o avião referido fica guardado no hangar 1 da TAM, no Aeroporto de Congonhas (SP)", complementa a delação.
A Justiça Federal também liberou hoje a íntegra de dois depoimentos de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras e delator da Operação Lava-Jato, prestados em novembro. Ele admite que participou de um esquema de coleta de propina entre 2003 e 2012 na estatal e que o valor médio pago pelas empreiteiras para garantir obras de porte era 3% - 2% para o PT e 1% para o PP, partido ao qual sua diretoria estava vinculada.
"Meu papel, como indicado pelo PP, era assegurar os interesses do partido dentro da Petrobras. Isso inclui as comissões, repassada depois aos parlamentares. A coleta da propina era feita primeiro pelo deputado José Janene (PP) e, depois que ele faleceu, pelo doleiro Alberto Youssef, também indicado pelo partido", esclarece Costa.
Dirceu era chamado de Bob
De acordo com os documentos divulgados nesta quinta, Youssef apontou ainda que José Dirceu é identificado como "Bob" nos registros de contabilidade e que o lobista tinha uma pessoa que era responsável pela contabilidade das propinas operadas por ele na Petrobras, em nome de empreiteiras do cartel.
Trata-se de Franco Clemente Pinto, que armazenava toda movimentação em um pen drive, acessado com senha. O doleiro ressaltou que não sabe sobre valores que teriam sido repassados a Dirceu.
Em nota, a assessoria do ex-ministro repudiou "com veemência" as declarações do doleiro: "São mentirosas. O próprio conteúdo da delação premiada confirma que Youssef não apresenta qualquer prova nem sabe explicar qual seria a suposta participação de Dirceu".
Confira trecho do depoimento de Youssef sobre a atuação de José Dirceu no esquema: