Durou quase oito horas a segunda audiência para ouvir testemunhas de acusação do Caso Bernardo, nesta segunda-feira (08). No total, sete pessoas foram ouvidas no Foro de Três Passos. A ré Edelvânia Wirganovicz compareceu ao Foro e assistiu aos últimos dois depoimentos. O mais forte foi o da ex-babá de Bernardo, Elaine Wendtz. Ela contou detalhes da rotina na casa onde o menino vivia com o pai e a madrasta. Disse que brigas entre o casal, na frente do menino, com palavrões, aconteciam com freqüência. Também afirmou que Graciele xingava muito Bernardo.
“Ela disse uma vez: ‘tu já matou a tua mãe e agora tu quer matar a mim e ao Leandro, mas você não vai conseguir. Você é uma pessoa muito ruim que não deveria mais viver. Que não deveria ficar viva’”, teria dito Graciele.
Elaine chorava muito enquanto respondia as perguntas. Ela contou, ainda, que um dia sentiu um cheiro estranho na lareira e perguntou a Bernardo o que tinha sido queimado ali.
“Bernardo me disse que queimou as fotos da mãe dele, junto com o pai e a Keli (Graciele) porque ela (a mãe) era uma pessoa má e esquizofrênica”, revelou Elaine.
A ex-babá, no entanto, disse que não tinha certeza se o menino tinha queimado junto, ou se o casal havia queimado, alegando essa desculpa. Elaine Wendtz também disse que Graciele seguidamente afirmava que o menino deveria ser internado. “Eles provocavam a criança para ela ficar nervosa a ponto de ‘explodir’”, conta a ex-babá.
Perguntada se o menino apanhava em casa, disse que nunca presenciou uma situação de violência física. Ressaltou, no entanto, que, quando o menino incomodava, Leandro o levava para quarto da casa, vestindo cinto, e saía, pouco tempo depois, sem a indumentária.
“A Keli (Graciele) dizia ‘bem feito, tem que apanhar mais. Tem que ser educado’”, destacou Elaine.
Elaine também contou que, um dia, a avó materna estava na cidade e Bernardo revelou a ela que o pai havia dito a ele para não sair para brincar, e nem abrir o portão.
A secretária da clínica de Leandro Boldrini, Andressa Wagner, foi a última a depor. Ela contou que quando o menino supostamente teria recém desaparecido, o médico disse a ela que a responsabilidade de procurar era da polícia. Também que foi orientada por Graciele a sempre “expulsar Bernardo do consultório”.
Sobre o receituário de Midazolan (medicamento encontrado no corpo do menino) encontrado em nome de Edelvânia, Andressa Wagner explicou que o médico não costumava deixar receitas carimbadas e assinadas, em branco.
“Ele só deixava assinada e carimbada, em branco, para eu preencher quando ele estava com pressa. Mas era para pacientes específicos”, destaca a secretária.
Também prestaram nesta depoimento outra ex-babá, um casal que seguidamente recebia Bernardo em casa, uma ex-professora do menino e uma secretária do colégio onde ele estudava. O juiz Marcos Luis Agostini vai marcar as audiências para ouvir as testemunhas de defesa quando todas as de acusação forem ouvidas. Somente depois dos 77 depoimentos, é que serão marcadas as oitivas dos quatro réus.
Caso Bernardo
Bernando Uglione Boldrini, 11 anos, foi encontrado morto no dia 14 de abril, após dez dias desaparecido. O corpo do jovem estava em um matagal, enterrado dentro de um saco, na localidade de Linha São Francisco, em Frederico Westphalen. O menino morava com o pai, o médico-cirurgião Leandro Boldrini, a madrasta, Graciele Ugulini, e uma meia-irmã, de 1 ano, no município de Três Passos.
O pai, a madrasta e uma amiga dela, Edelvânia Wirganovicz, respondem na Justiça por homicídio quadruplamente qualificado (motivos torpe e fútil, emprego de veneno e recurso que dificultou a defesa da vítima) e ocultação de cadáver. O irmão de Edelvânia, Evandro, também responde por ocultação de cadáver. O pai de Bernardo ainda é acusado por falsidade ideológica.