A rotina na Vila Cruzeiro, na Zona Sul de Porto Alegre, segue modificada um dia após um toque de recolher de criminosos levar ao fechamento de escolas e postos de saúde. Com a promessa de reforço no policiamento, os locais reabriram nesta quinta-feira (24). No entanto, o medo de novos confrontos entre gangues rivais fez com que muitos pais preferissem não levar os filhos às escolas.
Na creche Maria Dolabella Portella, que cuida de 70 crianças, apenas 16 compareceram ao local hoje. Segundo a direção, os pais estão de sobreaviso para buscarem os filhos em caso de novos enfrentamentos.
"Neste momento, ninguém pode dizer que está seguro. Não sabemos o que pode acontecer. A nossa escola está numa situação bem difícil, pois fica numa localidade muito exposta", diz a diretora, irmã Adriana Corrêa.
Na Escola Estadual de Ensino Fundamental Almirante Álvaro Alberto da Motta e Silva, menos da metade dos 400 estudantes compareceu nesta manhã.
"A comunidade está com medo, está receosa. O perigo existe e não dá para tapar o sol com a peneira. A comunidade está vindo buscar os filhos. Hoje, cada sala de aula deve ter 12 ou 13 alunos, quando teria 27", afirma a vice-diretora Eloísa Menezes Pereira.
A Brigada Militar alega que reforçou o efetivo com o apoio de 30 agentes do Batalhão de Operações Especiais e do Pelotão de Operações Especiais, além de cinco viaturas e o ônibus do programa Território da Paz. A região também possui uma patrulha escolar. No entanto, a reportagem da Rádio Gaúcha percorreu a Vila Cruzeiro durante uma hora nesta manhã e observou apenas três viaturas da Brigada Militar circulando.
A comandante do 1º Batalhão de Polícia Militar (BPM), tenente coronel Cristine Rasbold, nega que falte vigilância para as escolas, mas avalia determinar que a patrulha estreite a proximidade com alunos e funcionários das escolas.
"A patrulha escolar interfere para proteger a escola, mas às vezes, por não ter esse contato olho-a-olho, dá essa sensação de que ela não está presente. Mas ela está, posso garantir. O que a gente pode fazer é reforçar esse contato, com maior proximidade", diz a comandante do 1º BPM
Ainda segundo a comandante do 1º BPM, dois traficantes já foram presos desde ontem após o episódio do conflito. Com eles foram apreendidos armas e R$ 27 mil.
Escolas e postos de saúde fecharam no turno da tarde de ontem após tiroteio entre gangues. Moradores relatam que a criminalidade aumentou após a prisão e a morte de líderes mais velhos, que foram substituídos por jovens mais propensos ao conflito armado.