Uma lei municipal em vigor desde 2011 é a esperança do município de Camargo, no norte do Estado para acabar com a falta de médicos.
A prefeitura vai pagar o curso em universidade particular para quem se comprometer a trabalhar por cinco anos no município depois de formado, recebendo apenas um salário simbólico. O benefício alimenta a esperança de estudantes de Ensino Médio da cidade.
Contratar médicos sempre foi um problema no município de 2,4 mil habitantes, distante 49 quilômetros de Passo Fundo: os concursos nunca tiveram candidatos, devido aos salários oferecidos. Mesmo terceirizando o atendimento médico a empresas, quem assume não fica muito tempo.
- Eles ficam no máximo um ano e meio, depois fazem seleção para residência e vão embora - conta a secretária municipal de Saúde, Marilene Fioravanço.
Os dois únicos médicos de Camargo, hoje, são os contratados pela prefeitura - um deles com 20 horas para atender os programas de saúde da família, e outro com 40 horas semanais, que somados os valores do sobreaviso feito à noite, recebe R$ 15,1 mil mensais.
- Quando chega o fim do ano, entramos em pânico, nunca sabemos se o médico vai ficar. Temos estrutura excelente para atendimento à saúde, mas nos falta médicos - diz a secretária.
A lei aprovada em dezembro de 2011 é uma tentativa de acabar com o pânico e incentivar os moradores a cursar Medicina.
Para ser beneficiado, o candidato precisa morar há cinco anos em Camargo e ser aprovado em vestibular. A prefeitura paga as mensalidades do início ao fim do curso, independentemente do valor e da localização da universidade. O material necessário e os custos de moradia e alimentação ficam por conta do estudante.
O investimento, que pode somar, em média, R$ 250 mil ao final do curso, é cobrado após a formatura, em serviços. Após concluir a faculdade, o novo médico precisa trabalhar durante cinco anos no município, por 32 horas semanais, recebendo dois salários mínimos. Férias? Só 15 dias por ano.
Pode parecer pouco, mas o benefício está do tamanho do sonho de estudantes do Ensino Médio que moram em Camargo e gostariam de cursar Medicina. Edes da Rosa, 28 anos, sonha com isso desde que concluiu o Ensino Médio e o curso Técnico em Enfermagem.
Filho de agricultores, ele não tem condições financeiras de bancar o curso e, para sobreviver, trabalha durante todo o dia como agente comunitário de saúde, e em noites alternadas no hospital da cidade, como técnico de enfermagem. Com todo o dia ocupado, fica difícil conseguir a aprovação no vestibular.
- Não passei, mas vou continuar tentando até conseguir. É meu sonho - diz ele.
A estudante Júlia Zanatta, 18 anos, concluiu o Ensino Médico no ano de aprovação da lei e de lá para cá já fez quatro vestibulares. Aluna de escola pública, ela vai retomar os estudos na metade do ano, com curso pré-vestibular:
- Tem que reforçar o conhecimento se quiser ser aprovado, a competição é muito grande. + Até o momento nenhum estudante foi beneficiado com a lei, pois não foram aprovados em vestibular para o curso.
Quais as alternativas
A falta de médicos no interior é uma dor de cabeça para muitos municípios do Estado. Segundo dados do Conselho Regional de Medicina (Cremers), 414 municípios estão abaixo da média recomendada pela Organização Organização Mundial de Saúde (OMS), de um médico para cada mil habitantes.
Pelo menos 157 municípios, não têm médicos residentes na cidade, obrigando a população a maratonas em busca de atendimento. As alternativas:
Os municípios
Limitados pela legislação que não permite que um servidor concursado tenha salário maior que o prefeito, os administradores lançam mão de um artifício. Contratam por licitação, uma empresa que fornece o médico, permitindo assim dobrar os seus salários. Ainda assim, a dificuldade persiste.
Os médicos
Para o Sindicato Médico do RS (Simers), o problema de interiorização de médicos está fora da capacidade de solução dos pequenos municípios. A entidade defende a Carreira Estadual de Médico, com concurso público feito pelo Estado, que então designaria os médicos aos municípios do Interior, como já ocorre com juízes e promotores. Um projeto com a proposta foi entregue pelo Simers ao Governo do Estado.
A associação
Para a Federação das Associações de Municípios do Estado do RS (Famurs) a solução pode estar na atuação de médicos estrangeiros e brasileiros formados no Exterior. Uma campanha foi iniciada pela entidade para aprovação de uma Medida Provisória que libere a atuação destes profissionais.
- A media viria com o intuito de ampliar o atendimento na saúde e acabar com o transporte de pacientes em ambulâncias para as grandes cidades - diz o presidente da Famurs, Ary Vanazzi.
Norte do Estado
Prefeitura paga faculdade para estudantes de Medicina em Camargo
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