
O advogado da professora esfaqueada por alunos em Caxias do Sul garante que, antes do ataque ocorrido na última terça-feira (1°), na Escola Municipal João de Zorzi, ela não havia sido ameaçada. Reginaldo Leonel Ferreira ainda disse, em entrevista à Gaúcha Serra na manhã desta sexta-feira (4), que o ato de violência foi uma surpresa para a docente. O estado de saúde da professora é estável e ela recebe os cuidados de um enfermeiro em casa.
— Não houve nenhuma ameaça anterior. Ela está atônita em relação aos fatos, como toda a comunidade — assegura o advogado.
Assim como em nota divulgada na quinta (3), ele transmitiu o agradecimento da docente pelo apoio e solidariedade que tem recebido. Esse é o formato de manifestação entendido por Ferreira e pela vítima como o mais adequado, por enquanto:
— Ela prefere, nesse momento, que seja respeitada a privacidade para que possa se recuperar desse trágico evento. Por isso ela deixou essa mensagem (nota) para compartilhar com a comunidade caxiense.
Vocacionada e apaixonada pela profissão é como o advogado define a professora, o que, de acordo com ele, torna o ocorrido ainda mais difícil de ser assimilado psicologicamente.
Em relação aos ferimentos físicos sofridos pela educadora, Ferreira prefere não dar detalhes antes de serem concluídas as investigações pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) — o inquérito também deverá apontar as motivações para o ataque. Na quinta, ela foi submetida a um exame de corpo de delito, procedimento que integra as apurações da Polícia Civil, conforme o advogado.
— O trauma é inimaginável. Talvez a recuperação física seja rápida, mas a emocional não sabemos como vai ser — comenta.
Ferreira também relatou que a professora tem, à disposição, um profissional da área da psicologia fornecido pela Secretaria Municipal da Educação (Smed), além de ter recebido solidariedade e apoio do poder público.
Ouça a entrevista:
Gaúcha Serra: Nesta quinta-feira foi divulgada uma nota pela professora como primeira manifestação. Há condições de manifestação mais ampla neste momento?
Reginaldo Leonel Ferreira: Não, entendemos que isso não é possível. Ela prefere, nesse momento, que seja respeitada a privacidade para que possa se recuperar desse trágico evento. Por isso ela deixou essa mensagem que, na verdade, foi encaminhada para a comunidade escolar no dia seguinte do fato, mas ela entendeu por bem, agora, compartilhar também com a comunidade caxiense.
Dá para dimensionar o abalo psicológico sofrido pela professora?
O trauma é inimaginável, percebemos que ela é uma pessoa vocacionada, completamente dedicada e apaixonada à profissão, quase como uma missão de vida, o que torna esse evento trágico muito mais difícil de se compreender, com grandes preocupações, inclusive em relação ao futuro. Em que pese a recuperação dela estar avançando, ela está em casa até para uma orientação médica, inclusive em razão da quantidade de ferimentos. A recuperação física talvez seja mais rápida, mas a emocional não sabemos como vai ser. Logo ela vai estar com atendimento psicológico para compreender e superar o que aconteceu.
Qual a extensão dos ferimentos no aspecto físico, dentro do que pode ser comentado?
É melhor a gente aguardar, ela foi submetida na quinta-feira a um exame de corpo de delito, que faz parte de um procedimento de investigação de ato infracional e está tramitando em sigilo. Precisamos respeitar esse momento de investigação com total confiança nas autoridades, que aliás, na DPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente), aqui em Caxias do Sul, são muito competentes no trabalho que fazem.
Na mensagem divulgada, ela que diz que algumas informações que foram divulgadas não conferem com a realidade. Que informações seriam essas?
Infelizmente, nesse momento que a gente vive, o fluxo de informações é quase caótico. Então, o que se divulgou nas redes sociais, alguma coisa que também saiu na mídia, não correspondem à realidade, há muita especulação sobre o que aconteceu e seus motivos. Nem a professora e nem a comunidade daquela escola conseguem compreender os motivos, nos parece que é muito cedo para que se emitam opiniões sobre o que aconteceu sem a compreensão total dos fatos. Essas informações acabam turbando não só essa família, essa pessoa que está passando por um momento difícil, mas também, penso eu, que toda a nossa comunidade caxiense. Não quero aqui detalhar que tipo de informações foram divulgadas, mas nos parece que a gente precisa confiar nas autoridades que estão responsáveis pela investigação dos fatos, para que aí sim, com a elucidação completa, possamos pensar em responsabilidades. Não só dos adolescentes que estão à disposição da Justiça, mas também uma profunda reflexão sobre o que tem acontecido na educação de Caxias do Sul e de todo o país com essa onda de violência, com certo desrespeito dos estudantes em relação ao corpo diretivo e professores, mas também da segurança um pouco mais ampla dos prédios escolares. Esse momento pode nos catalisar para uma profunda reflexão sobre a segurança dos professores.
Você falou da responsabilização dos envolvidos diretamente. Já se pensa na busca de outros possíveis responsáveis, por exemplo, pela questão da segurança?
Estamos avaliando com bastante cautela, além da responsabilização dos adolescentes, a cargo da Justiça, também de intervenções. De utilizar esse fato como um catalisador de mudanças para a nossa comunidade, porque é preciso. Os sinais estavam acontecendo já há alguns anos, esse não é um fato isolado. Aliás, tratar esse fato como isolado, parece que parte do Poder Público tem feito isso, não nos parece producente para a busca de soluções para melhoria da comunidade escolar.
A professora tem recebido apoio da secretaria Municipal da Educação? Ela entende que está sendo adequado e suficiente?
Sim, ela recebeu a solidariedade, o contato e também a disponibilização de um profissional da área da psicologia, e é grata essa situação. Mas evidentemente que o momento ainda é precoce, inclusive, para a gente entender o que ela precisa, como vai ser esse processo de recuperação física e emocional dela. Então, nós estamos avaliando junto com os médicos que atendem ela quais são as necessidades agora para levar ao município essas necessidades de acompanhamento. Até agora, tem tido um bom retorno, mas a gente tem que verificar como é que isso vai se desenvolver.
Ela relatou se já tinha recebido alguma ameaça anterior ou não?
Não recebeu. Apesar de não poder falar sobre os fatos, isso eu faço questão de destacar. Não houve nenhuma ameaça anterior, ela está atônita em relação aos fatos, como toda a comunidade.