Podemos disfarçar que amamos. Podemos disfarçar que estamos odiando.
A criação pôs à nossa disposição inúmeros disfarces. Não só podemos ser outra pessoa como até somos capazes de ser diversas pessoas.
Para tanto, fomos equipados com o fingimento. Conheço pessoas que fingem estar tendo orgasmo e já soube de casos de pessoas que têm orgasmo e fingem que não estão tendo. Todo disfarce tem por trás um interesse.
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Há uns que fingem que amam. Juram de pés juntos, ajoelhados, que estão amando. E não estão. O ser humano pode ser muito falso.
O Zé Dirceu jura que não tem nada a ver com o mensalão, que nunca tomou conhecimento de uma só ação do mensalão, e a prova dos autos levou o procurador-geral da República a escrever no seu libelo que o Zé Dirceu era o chefe da quadrilha.
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Eu já vi gente fingir que era gremista. E, no entanto, pulsava dentro do seu peito um coração colorado.
Há pessoas que passam 40 anos jurando que amam alguém e no fundo o que acontece é que odeiam esse alguém.
Tudo porque o sentimento não é um riacho de águas límpidas. O sentimento se oculta, ele pode se manifestar de uma forma completamente diferente do seu verdadeiro conteúdo.
Se trouxéssemos estampado na face o que realmente sentimos, a vida seria muito mais difícil para nós.
Seria muito mais fácil para os juízes julgar os réus se estes não tivessem a possibilidade de mentir.
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Se até a história mente, como não haveria o homem de mentir? Se se perguntar a todos qual foi o maior político brasileiro, qual foi o maior estadista, a resposta será só uma: Getúlio Vargas.
No entanto, a polícia política do ditador Getúlio Vargas foi comandada por Felinto Muller, um carniceiro. Nas masmorras da ditadura de Vargas, as unhas e os dentes dos presos eram arrancados em torturas medievais.
Além disso, quando da II Guerra Mundial, o ditador Getúlio Vargas decretou simplesmente o confisco de todas as propriedades e outros bens de origem honesta de pessoas estrangeiras que viviam estavelmente no Brasil, um crime horrendo. Só por serem estrangeiras.
E, no entanto, Getúlio Vargas é endeusado pela memória nacional e considerado o melhor e maior homem público da história política brasileira.
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Se a História não arranca a máscara da face de tantas pessoas, imagina o nosso relacionamento comum: bilhões de pessoas se fazem passar por outras. É mau posando de bom, é falso posando de legítimo, é cruel posando de terno.
A natureza humana se permite esses disfarces, por isso há tantas dúvidas sobre o que é falso e o que é verdadeiro.
É por isso que todos nós nos decepcionamos com tanta gente e até mesmo tanta gente acaba se decepcionando conosco.
Opinião
Paulo Sant'Ana: "A máscara da face"
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