Por Fernando Luiz Zancan, presidente da Associação Brasileira do Carbono Sustentável
A sociedade acorda quando sente na pele os problemas do mundo real. Quando o problema vira um incêndio todos começam a refletir sobre a situação. É o que acontece hoje com o carvão no Rio Grande. A Usina de Candiota III, lançada pelo presidente Lula em 2006, iniciou suas operações no governo Dilma Roussef, em 2011, e pertencia a Eletrobras até ser privatizada, em 2023. Junto com Pampa Sul, Candiota III forma o coração de uma cadeia produtiva. A indústria do cimento usa as cinzas das térmicas para produzir um insumo com menor emissão de carbono. Recentemente, o governo gaúcho comemorou o investimento em uma nova fábrica de cimento com as cinzas de Candiota.
A cadeia produtiva gera milhares de empregos e renda, tornando Candiota o terceiro PIB per capita do Estado e o 20º do Brasil, além de responder por 9% da energia consumida pelos gaúchos. Apesar dos alertas sobre o fim do contrato de venda de energia de Candiota III em 31 de dezembro do ano passado, poucas foram as ações públicas para solucionar o problema. O governo do RS, importador de energia, não se preocupou em preservar uma indústria essencial para a segurança energética. Na tragédia da última enchente, a usina de Pampa Sul garantiu o fornecimento de luz no Estado, quando não havia sol, linhas de transmissão ou usinas hidráulicas para ajudar.
Reinventar uma indústria requer tempo e dinheiro
Os parlamentares gaúchos viabilizaram um caminho para resolver a recontratação da usina, vetado depois pelo presidente Lula. Nesse momento, estamos diante de um verdadeiro incêndio: uma cidade e uma população sem futuro; uma transição energética injusta. Não é fechando uma indústria que vamos construir um futuro. O fechamento de Charqueadas, na década de 1990, repercute até hoje. Reinventar uma indústria requer tempo e dinheiro. Continuar operando Candiota III é fazer a verdadeira transição justa. Os gaúchos precisam apagar esse incêndio. O Rio Grande está sentado em cima de um pré-sal de energia, que é o seu carvão, e precisa, mais do que nunca, reinventar essa indústria para dar um futuro aos gaúchos.