A preservação da água, recurso indispensável à vida, é essencial para garantir o abastecimento futuro e a sobrevivência digna e sustentada. Para o cuidado dos recursos hídricos, soluções tecnológicas, práticas sustentáveis e políticas públicas podem ser combinadas e adotadas por indivíduos, empresas e governos.
Um exemplo de sustentabilidade é o empreendimento residencial Duos, recentemente concluído em Porto Alegre, que adotou uma cobertura verde, substituindo a tradicional laje. Essa vegetação resistente armazena até 50 litros de água por metro quadrado, ajudando a absorver a chuva e regular a drenagem urbana, reduzindo o escoamento superficial e os alagamentos. O verde que brota contribui para combater as ilhas de calor.
O edifício também possui um reservatório para reaproveitar a água da chuva, utilizando-a em descargas sanitárias, para regar jardins e lavar pisos. A medida traz vantagens como reduções nos custos com água do condomínio e impacto na rede pluvial.
O telhado verde é produzido por empresas como a Ecotelhado, que também oferece outras soluções para o uso eficiente e a preservação da água, como jardins de chuva, que promovem a infiltração no solo, recarregando aquíferos e diminuindo enchentes; e ecodreno, um sistema de cisterna vertical que reaproveita água da chuva.
— O objetivo é integrar a natureza aos espaços construídos, promovendo o equilíbrio entre desenvolvimento urbano e preservação ambiental — explica Catarina Feijó, chief marketing officer.
Edificações mais resilientes passam por ter água in loco para uso, explica Fernando Magalhães, professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Como neste exemplo citado.
— Em função das mudanças climáticas, a gente conseguiria estar melhor preparado. Hoje as edificações não são preparadas para isso — frisa.
Além das chamadas soluções baseadas na natureza, os indivíduos também desempenham uma função na preservação da água.
Confira dicas do professor e da Corsan para preservar água:
- Evitar o desperdício, com consumo consciente;
- Reutilizar o esgoto em vez de lançá-lo na fossa séptica ou na rede, por meio de sistemas evapotranspirativos, filtrando ou tratando a água para irrigação do solo e de jardins, lavagem de pátios e pisos, em descargas sanitárias;
- Reutilizar água com captação da chuva;
- Não poluir corpos hídricos;
- Planejar o uso da máquina de lavar, gerando menor frequência de uso;
- Reaproveitar a água da máquina de lavar para limpeza de pisos e quintal;
- Fechar bem as torneiras e corrigir vazamentos e infiltrações;
- Fechar a torneira ao escovar os dentes e lavar a louça, economizando até oito litros por minuto;
- Lavar o quintal e o carro com balde, substituindo a mangueira, reduzindo o consumo de água de 500 para 50 litros;
- Adotar tecnologias mais eficientes como torneiras e chuveiros economizadores;
- Promover irrigação eficiente de jardins e hortas;
- Buscar dispositivos que diminuam a vazão de água;
- Substituir as válvulas de descarga por modelos que utilizam menos água e separam os tipos de descarga;
- Em aeroportos e prédios públicos, colocar mictórios com descarga automática com volume reduzido.
O poder público pode incentivar a adoção de práticas sustentáveis em edificações por meio de descontos fiscais, como já ocorre com o IPTU verde em Porto Alegre, aponta Magalhães. Além disso, o Programa de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) incentiva a preservação e proteção da água em bacias hidrográficas, com recompensas por parte do poder público para evitar usos com impactos negativos.
Diretor interino da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), Marco Neves aponta que a política de recursos hídricos requer atuação na bacia hidrográfica para a disponibilidade e qualidade da água – como APPs, reservas legais, barraginhas, práticas de conservação de solo e estradas vicinais bem construídas e conservadas. As medidas garantem mais resiliência climática.
Satélite projetado para Marte busca vazamentos no RS
No RS, há uma perda de 39,5% (ou 512 piscinas olímpicas por dia) na distribuição de água, de acordo com dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento. O dado inclui perdas reais (vazamentos) e de faturamento.
Empresa de saneamento que atende 317 municípios gaúchos, a Corsan trabalha para minimizar as perdas e adota medidas como o uso de um satélite com radar, originalmente concebido para buscar água em Marte, para identificar vazamentos na rede de abastecimento. O equipamento escaneia o subsolo por meio da emissão de micro-ondas, identificando água potável em contato com o solo em até três metros de profundidade, por meio do cloro dissolvido e da condutividade elétrica, diferenciando-a de água bruta de lençóis freáticos, rios subterrâneos ou poços artesianos.
A medida tem precisão acima de 90% e reduz o tempo de reparo em até 85% (de 18 para três meses), eliminando a necessidade de quebrar pavimentações para encontrar o problema e diminuindo as perdas hídricas. Já foram mapeados 5.350 quilômetros da rede e identificados cerca de 7 mil vazamentos ocultos.
— Boa parte dos vazamentos que existem não aparecem no solo, ficam subterrâneos. Então, nós temos de ter uma atuação proativa e procurar. Se não, eles não vão ser consertados nunca. A gente perde muito mais água em vazamentos não visíveis — afirma Rodolfo Fuchs, gerente de projetos do Programa de Combate às Perdas Hídricas, destacando que os trabalhos foram intensificados após a enchente, devido à erosão.
Além disso, o Centro de Operações Integradas monitora em tempo real a rede, possibilitando identificar anomalias e agir. A empresa também realiza a gestão da pressão, principal causa de perdas reais, e tem trabalhado na implantação de redes de esgoto, para melhorar a qualidade de mananciais.