
Apresentar Denilson como novo comentarista do Grupo Globo é diminuir demais essa grande figura do futebol brasileiro. Assim como seria descrevê-lo apenas como ex-jogador. Até mesmo um acompanhamento forte, tipo pentacampeão, é insuficiente.
Denilson, que adicionou a palavra "Show" em suas redes sociais (e se aplica tanto a seus tempos de jogador quanto ao de comunicador), esteve em Porto Alegre para alguns compromissos profissionais, e reservou um espaço em sua agenda para conversar com GZH.
Esbanjando carisma e conhecimento, falou de Gre-Nal, expectativa para o Brasileirão, mudanças na carreira e lembranças do Rio Grande do Sul. Confira abaixo a entrevista completa.
Que bela semana para vir a Porto Alegre.
— Que semana decisiva! Viemos no avião de São Paulo pra cá falando sobre isso. Você vai estar lá, né?
Sim, sim.
— Não vou conseguir ficar para o jogo, tenho outros compromissos em São Paulo. Mas gostaria muito de ficar porque nunca assisti a um jogo. Aliás, eu nunca assisti ao jogo, né? Porque o Gre-Nal é O JOGO. E entendo bastante desse sentimento do clássico, do derby, porque morei em uma cidade que se divide, se bobear igual ou até mais nessa hora, que é Sevilha, com seu Betis x Sevilla. Então entendo quando chega essa semana. Imprensa e torcida ficam projetando o que pode acontecer no clássico.
Nos últimos 80 anos, pelo menos, alguém perguntou se Gre-Nal tem favorito. Talvez em Sevilha fosse assim também. Enfim, clássico tem favorito?
O elenco do Grêmio nem está fechado ainda, o do Inter parece mais certo
DENILSON
Ex-jogador de futebol e comentarista da Globo
— Sempre tem alguém que chega melhor, mas, na hora que a bola rola, zera tudo. Acho, por exemplo, que o Inter está num momento muito melhor do que o do Grêmio. O Inter tem um treinador que já está, desde o ano passado, fazendo um trabalho bom, tem jogadores que estão mais acostumados com a forma do Roger. O Quinteros chegou só agora no Grêmio. Sinto que o time ainda não entende muito o que o treinador pede. O elenco do Grêmio nem está fechado ainda, o do Inter parece mais certo. Por esses detalhezinhos que, antes dos jogos, acabam fazendo com que o Inter seja o favorito para esse confronto.
Mas tem outros fatores?
— Sim. Tem mais situações. A polêmica do Grêmio contra o Juventude, se foi falta ou não. Isso também coloca mais ingrediente de rivalidade. Mas vale lembrar, e não podemos cansar de falar: que isso fique dentro do campo. Que o torcedor consiga desfrutar dessa adrenalina que envolve o clássico.
Para quem está lá dentro, como foi o seu caso, como é a semana do jogador?
— Posso falar por mim, porque cada um tem uma visão. A maioria dos jogadores vai falar que está tranquilo, que é mais um jogo. Mas não é normal. Se você tem a sensação de que o adversário é o favorito, quer dar a resposta. Isso é o que move o futebol, essas brincadeiras, essa motivação que fomentamos. Essa geração tem outra mudança, eles têm mais acesso às informações.
Influencia muito no jogador?
— Claro, chega tudo. E aí, no meu caso, eu não conseguia dormir direito. Se o jogo fosse domingo, dormia bem até sexta. Depois, já ficava ansioso. Sonhava com os lances, que fazia gol, que perdia, tudo. Era um turbilhão. Então, se o jogador que responder com o coração que consegue dormir tranquilo, que é só mais um jogo, cara, parabéns para você. Porque para mim, em todos os jogos decisivos e clássicos vinham noites mal dormidas.
Se o jogo fosse domingo, dormia bem até sexta. Depois, já ficava ansioso.
DENILSON
Ex-jogador de futebol e comentarista da Globo
Tinha alguma coisa que fazia já desde o início do jogo? Tipo um drible, uma chegada?
— Tinha. Eu tentava o primeiro drible. Na primeira jogada, tinha que ser perfeita. Pegava a bola e fazia alguma jogada individual para criar algum desconforto no meu marcador. Ele tinha que pensar: "Putz, o Denilson está ligado hoje". O adversário também pensava nisso, em atacar para que eu me preocupasse em voltar para marcar. Era uma disputa para ver quem deixava o outro pior primeiro.
Depois desses dois Gre-Nais vai começar o Brasileirão. Onde imagina que estará a dupla Gre-Nal?
— Vejo que o Inter está bem, consigo imaginar no G-6. O Grêmio me deixa uma interrogação, não consigo te dizer com a clareza que eu falei aqui em relação ao Inter, qual vai ser a posição do Grêmio no Brasileirão. Tem Flamengo, Palmeiras, acho que o Cruzeiro vai vir forte, de repente o Galo. Vejo o Grêmio na mesma situação do São Paulo. Não tenho convicção com firmeza e clareza. Mas vai ficar acima dos 10 primeiros.
Agora, duas perguntas de vida pessoal. A primeira: que tal a Globo? O que já sentiu de mudança?
— Minha vida mudou bastante nesses últimos dois meses. É uma vida nova, estou me adaptando a um cenário diferente, a uma rotina diferente, mas muito seguro e muito feliz. Vou me emocionar (com os olhos cheios de lágrimas), porque trabalhei bastante para viver esse momento. Tenho tempo de fazer minhas coisas, de estar mais tempo com meus filhos, com minha esposa. Continuo fazendo minhas entregas e trabalhando com televisão, com comunicação. É algo que me apaixonei lá em 2010, quando eu fui para a Band. A repercussão da minha saída da Band foi grande, não esperava. Mas mostra que meu trabalho foi muito bem feito lá, sou muito grato, obviamente.
Foram boas memórias.
— Tudo que sei hoje como comunicador, aprendi dentro da Band, e só vou transferir para a Globo. A recepção na Globo foi tão boa quanto a da minha chegada na Band. A diferença é que chego com 15 anos de história na comunicação. Aprendi muito com os profissionais de lá, dentre eles a Renata Fan, que, para mim, continua sendo a melhor apresentadora de esporte do Brasil. Dentro da Globo, estou ainda me encontrando, não decorei o caminho. Estou nessa fase, vivendo com muita intensidade, com muita alegria, mas já percebi que a Globo tem um alcance maior em todos os sentidos. Coisas que já falei, por exemplo, no Globo Esporte tiveram repercussão muito maior do que quando falava na Band.
Renata Fan, Luiz Felipe Scolari. Você tem uma ligação muito forte com os gaúchos. Quais são as principais memórias do RS?
— Estreei aqui (no Rio Grande do Sul) como jogador profissional. Foi em 1994, na Copa Conmebol. O São Paulo jogava com o Expressinho, treinado por Muricy Ramalho, que era um time de meninos da base. Tinha Rogério Ceni, Juninho Paulista, Catê, grande Catê, Mona, Caio Ribeiro. É uma bela lembrança, meu começo no futebol.
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