Nem sempre os sonhos olímpicos estão restritos aos atletas, treinadores ou profissionais envolvidos com as delegações dos mais diferentes países. Os Jogos do Rio, que iniciam em agosto, trarão emoções especiais para muitas pessoas que estiverem nas arquibancadas ou mesmo trabalhando nos bastidores, como um suporte fundamental para os competidores.
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É o caso do fisioterapeuta Rafael Plein, 39 anos, que colocará o aprendizado a serviço da Olimpíada. Ele será um dos voluntários, escolhidos a dedo para contribuir com a preparação, prevenção de lesões e atendimentos aos atletas.
A relação de Rafael com o esporte vem de berço. O pai, José Luiz Plein, foi jogador profissional de futebol, treinador e é formado em educação física. Na universidade, conheceu a esposa Sonia Maria Pedroni Plein, que também seguiu para a mesma área. Era natural que o filho buscasse o caminho idêntico. Porém, um problema no coração, quando Rafael tinha um ano e oito meses, impediu que ele tivesse qualquer chance de ser um profissional do esporte.
Rafael nasceu em Curitiba, mas veio com menos de um ano para Caxias do Sul. O sonho de ser piloto de avião e trabalhar na Força Aérea Brasileira ficaram pelo caminho. Os voos foram guardados na estante espelhada do consultório, repleta de miniaturas. No final das contas, foi na fisioterapia que Rafael encontrou a relação com o esporte e procurou justamente se especializar na área para buscar a diferenciação. A chance de estar na Olimpíada faz parte desse crescimento.
– É um sonho realizado, uma oportunidade especial. Acredito que a troca de experiências será muito rica. O objetivo após os Jogos é ser incorporado novamente a alguma Confederação, que o trabalho seja reconhecido. Não apenas o meu, mas do fisioterapeuta esportivo na nossa cidade. Que venha essa visibilidade maior – destaca.
Para ter a oportunidade de trabalhar nos Jogos, Rafael passou por um período de capacitação e uma entrevista em Porto Alegre, antes de receber a carta-convite. Nos últimos dias, foi comunicado da sua escala de trabalho. Ele estará no Sambódromo, acompanhando de perto as competições e o período de ambientação e treinos dos atletas de Tiro com Arco e Maratona, entre os dias 1º e 12 de agosto.
– Será uma experiência única. Quando recebi a carta-convite não acreditei, mandei para alguns amigos. Comecei a chorar em casa. Nos jogos do Caxias do Sul Basquete, quando ouvia o hino nacional, imaginava essa mesma cena nos Jogos e já tinha essa emoção muito grande – relembra.
Em cada posto no Rio serão um médico, um enfermeiro e dois fisioterapeutas voluntários. A estimativa é que cerca de 700 profissionais da fisioterapia estejam voluntariamente na Olimpíada. Isso sem contar com os que serão trazidos pelas confederações de cada país.
– As delegações têm seus fisioterapeutas. Provavelmente não atenderei ninguém “famoso”. Nós seremos o grupo de suporte para os atletas de países diversos, que tenham sua equipe ou não – explica.
Experiência em outros esportes
O mentor e principal influência de Rafael Plein na fisioterapia esportiva é Ricardo Finger, que trabalha há mais de duas décadas no Juventude. No clube alviverde, Plein estagiou e também atuou na equipe de Finger. Depois, ainda no futebol, trabalhou no Glória e Brasil-Fa. Porém, a experiência no esporte é bem mais ampla. Em 2004, ele esteve com a seleção brasileira de canoagem feminina, que treinava em Caxias do Sul. Foi uma primeira experiência que trouxe a vontade de, um dia, estar nos Jogos Olímpicos.
– Quem está envolvido no esporte não tem como não pensar em participar da Olimpíada. A gente ficou muito perto na oportunidade, com a vaga para Atenas disputada entre Brasil e Argentina. As argentinas fizeram o índice. Foi quando caiu a ficha e veio a certeza que eu poderia estar nos Jogos trabalhando. A dedicação para a fisioterapia esportiva aumentou e aí após a entrada na Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva (Sonafe), em 2005, com os melhores do país, isso teve um respaldo ainda maior – avalia.
Plein ainda trabalhou com as equipes de futsal (Cortiana, em 2008) e handebol feminino (Apahand, em 2015). Atualmente, atende a todo tipo de atletas, de corredores de rua a tenistas, além do departamento de esportes do Recreio da Juventude (natação, handebol, tênis e ginástica) e da equipe do Caxias do Sul Basquete, em parceria iniciada em 2013. Nos Jogos, o desafio será conhecer um pouco mais sobre a realidade do Tiro com Arco.
– Como não é um esporte de afinidade pela minha história, a ideia foi procurar descobrir como funciona o gesto motor dos atletas e entender a biomecânica da atividade para saber o que pode incomodar as pessoas nos treinos ou competições. Mesmo assim, atleta é sempre uma surpresa – projeta Plein.
Para ele, as questões mais complicadas a serem resolvidas no Rio estarão em situações que fogem do trabalho em si.
– Talvez as maiores dificuldades sejam de idioma e cultural. Tem alguns tipos de procedimentos que alguns países não podem ser feitos, também por questões religiosas. O bom é que a gente nunca estará sozinho, teremos uma equipe e isso também vai auxiliar.
Sonhos Olímpicos
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Maurício Reolon
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