O Estádio Independência, mesmo que sem torcida, foi palco para a festa do América-MG, classificado pela primeira vez às semifinais de uma Copa do Brasil. O técnico Lisca e seus comandados festejaram a colocação entre os quatro melhores da competição e os R$ 7 milhões nos cofres do clube, conquistados justamente contra o Inter onde o treinador passou 20 anos da vida. A última penalidade deu início a uma confusão por conta de declarações em campo.
— Foi um sofrimento familiar, porque tem muito colorado e muito gremista na família. Eu fico no meio deles, tem uns que torcem contra, outros a favor — disse, em entrevista ao Show dos Esportes desta quinta-feira (19), antes de complementar:
— Não foi um pedido de desculpas, foi uma demonstração de respeito. Óbvio que fomos com tudo para ganhar, assim como o Inter também. Somos profissionais.
O abraço mandado aos torcedores do Inter, a declaração de coração doído e o grito "faz o TED" — expressão reivindicando a transferência do valor da premiação junto à CBF — foram interpretados como provocação por Lindoso, do Inter. O volante mencionou o técnico e o jogador Alê, do América, na coletiva em que foi explicar a confusão. Lisca também tem sua versão:
— Começou com o Rodinei. Após o gol aos 50 minutos, um gol heroico, a gente não podia ter tomado ele na última bola. Teve a comemoração maluca. Acho legal, tem que acontecer, entrou todo mundo. Mas aí o Rodinei foi na frente do nosso banco, colocou a mão nas partes baixas e nos falou um monte de bobagem.
O técnico semifinalista admite o erro do próprio atleta, que também provocou de volta os colorados após a última penalidade e gerou a revolta de Lindoso no campo. No entanto, se defende da acusação de desrespeito ao clube gaúcho.
— Falei para a gente ir fazer nossa festa no nosso vestiário, não falei “faz a TED” pro Inter, isso é um bordão nosso. O prêmio individual que cada um de nós for ganhar do clube se vencer a Copa do Brasil, tem jogador do Inter que ganha por dia — explicou, rebatendo:
— Depois o Lindoso falou do técnico do América na coletiva. Lindoso, eu sou o técnico do América, meu nome é Luis Carlos Cirne Lima de Lorenzi, Lisca. Tenho uma história dentro do clube, e se tu for saber dela, vai te dar conta que eu nunca falaria nada para ninguém aí.
Prata da casa
A ultima passagem de Lisca no Inter foi em 2016, treinando a equipe que seria rebaixada nos últimos três jogos do Brasileirão. O trabalho não é bem lembrado por Lisca, que tinha pretensões maiores, hoje deixadas de lado.
— Meu tempo para ser treinador tampão no Inter já passou. Fazer aqueles jogos que fiz na convocação do Fernando Carvalho, em 2016, foi bem difícil para mim. Atrapalhou muito meu processo de um dia treinar o Inter, fui lá para o fim da fila. Essa gestão do Marcelo, eu conheço todos e tenho o máximo respeito. Medeiros é meu amigo das antigas, o Chaves Barcellos é meu primo de segundo grau, mas eles nunca tiveram a intenção de contar com meu trabalho. Sou bem ciente disso, eles têm todo direito — argumentou.
Lisca trabalhou dos 17 aos 37 anos de idade no Inter. Foi técnico e membro de comissões das categorias de base, conquistando títulos e moldando promessas que despontaram no time principal no começo dos anos 2000. Treinava o time B do Colorado quando Abel Braga conquistou a Libertadores e o Mundo com o principal. Em 2020, Lisca comanda o América na campanha inédita na Copa do Brasil, luta pelo acesso na Série B, mas não esquece das origens.
— Todo respeito ao Abel. é um ícone. É capaz de fazer este trabalho no Inter. Por tudo q ele fez na carreira, e pelo que ele já fez ontem (quarta-feira). Melhorou o time em relação ao primeiro jogo com a gente — elogiou, torcendo: — Ele tem tudo para engrenar na Série A e vou torcer demais contra o Boca Juniors a partir da próxima quarta (25).