O Inter precisa encontrar uma fórmula para se reinventar na Arena. O clássico desse sábado contra o Grêmio coloca frente a frente forças opostas e em momentos extremos. De um lado, um time que não vence há quatro jogos. De outro, o dono da casa, que nas três recentes partidas em seus domínios marcou 13 gols — e sofreu apenas dois. Um dos coelhos à disposição na cartola do técnico Odair Hellmann é Zeca.
Apresentado como o grande reforço do clube 17 dias atrás, o lateral do Santos trocado por Eduardo Sasha deverá finalmente estrear. E no clássico 416. Durante os treinos a portões fechados da semana colorada, Zeca foi testado no meio-campo.
Contratado para a lateral direita, posição na qual ele foi campeão olímpico nos Jogos do Rio — tendo Odair como auxiliar técnico de Rogério Micale —, o meio-campo seria a última posição pensada pelo treinador colorado para escalar Zeca. Mas as laterais estão minimamente resguardadas para o clássico, enquanto que o meio-campo, não.
O volante Gabriel Dias, que teve boa atuação nos mata-matas contra o Grêmio no Gauchão, foi mal na recente derrota para o Flamengo no Maracanã. E, como Edenilson não joga, por lesão no joelho, Zeca surge como uma das opções para Odair — a outra é Fabinho.
Como titular do Santos, disputando clássicos locais (ou derbys, como os paulistas preferem chamar, tomando emprestado do inglês), de 2014 a 2017, Zeca somou 29 jogos contra Corinthians, Palmeiras e São Paulo, com um aproveitamento de 59,7%. Porém, está sem ritmo de competição. Devido ao litígio com o Santos, não atua há 203 dias — no CT, apenas treinos com a equipe reserva e com o time titular. O seu último jogo foi a vitória do Santos sobre o Atlético-GO por 1 a 0, em 22 de outubro.
— Zeca sempre foi um jogador que teve uma postura ofensiva, de jogar no ataque mesmo, pela lateral esquerda, nos clássicos na Vila Belmiro. Com Dorival Júnior, na melhor fase recente do Santos, entre 2015 e 2016, Zeca apoiava o tempo todo, ainda que jamais tenha sido decisivo nestas partidas. Já fora de casa, Zeca não era tão visto no setor ofensivo, resguardava mais a posição — conta Michael Santos, repórter da Tribuna de Santos.
Zeca é um jogador muito emotivo, sanguíneo, e isto se exacerba nos clássicos
MICHAEL SANTOS
Repórter da Tribuna de Santos
Um clássico em especial ficou mais famoso e, de certa forma, marcou a trajetória de Zeca no Santos. Foi pelo Brasileirão de 2015, contra o Corinthians de Tite, na Arena Itaquera. O Santos perdeu por 2 a 0. O primeiro gol do jogo foi marcado por Jadson, em pênalti sofrido por Vagner Love, e cometido por Zeca. O árbitro Flávio Rodrigues Guerra, porém, expulsou o zagueiro David Braz, pensando que ele havia cometido a falta. No intervalo, Zeca protestou contra a arbitragem, dizendo que Love havia se jogado. Após a partida, ao assistir ao lance na TV, ele admitiu a falta:
— O David Braz não ofendeu ele. Realmente, foi pênalti. Eu vi que realmente foi pênalti. Só que, até então, quem deu pênalti foi o assistente. Só que, se viu o pênalti, ele tem de saber quem foi que fez. Realmente foi pênalti. Falei que estava na jogada, então ele tinha de me expulsar.
A jogada acirrou ainda mais a rivalidade entre santistas e corintianos (em São Paulo, o Corinthians é o principal rival do Santos) e Zeca ficou marcado pela torcida adversária. Depois disso, no clássico de 2016 em Itaquera (derrota santista por 1 a 0), o lateral deixou o campo fazendo gestos obscenos para os torcedores rivais.
— Zeca é um jogador muito emotivo, sanguíneo, e isto se exacerba nos clássicos. Terá pela frente um Grêmio dono do futebol mais vistoso do Brasil, como era aquele Corinthians do Tite. Mas nunca foi um jogador de decidir o clássico — acrescenta Michael Santos.
Zeca é um jogador pronto, que tem experiência suficiente para suportar uma situação adversa como essa. A pressão do clássico não será problema para ele
DORIVAL JÚNIOR
Ex-treinador de Zeca
Neste sábado, Zeca voltará à Arena, onde dois anos atrás marcou um golaço em Marcelo Grohe, ao receber na entrada da área, pela esquerda, tirar Edilson do lance e bateu em curva, sem chances de defesa. O gol, o segundo do Santos, marcou o 2 a 2 na partida, aos 38 minutos do segundo tempo. O Grêmio, porém, venceu, com gol de Walace, nos acréscimos.
— Aquele gol da Arena é um resumo de Zeca: jogando na esquerda, é bem difícil de marcá-lo. Ele confunde muito a marcação em suas ações. O marcador nunca sabe se ele vai cortar para dentro, se vai cruzar com o pé esquerdo ou com o direito — observa Klaus Richmond, setorista de Santos. — Em clássicos, teve alguns deslizes que ficaram marcados, mas garantiu o Santos muitas vezes também — agrega.
Principal treinador na carreira de Zeca, Dorival Júnior o comandou por quase três temporadas no Santos. Para o técnico, o lateral e dublê de volante é um atleta de "jogos grandes".
— Zeca é um jogador pronto, que tem experiência suficiente para suportar uma situação adversa como essa. A pressão do clássico não será problema algum para ele. É um cara de grandes desafios, de jogos grandes, de clássicos — entende Dorival. — Mesmo que seja escalado no meio-campo, ele tem totais condições de ir bem. Joga pelos lados e pelo meio. Começou assim nas categorias de base, conhece a função - conclui Dorival Júnior, treinador do Inter nas temporadas de 2011 e de 2012.
Neste sábado, a partir das 16h, na Arena, Zeca terá uma primeira amostra do que é jogar no Inter. E, de cara, será uma prova de fogo para o campeão olímpico e futuro titular colorado.
Zeca em clássicos
Contra o Corinthians
- Jogos: 9
- Vitórias: 5
- Derrotas: 4
Contra o Palmeiras
- Jogos: 12
- Vitórias: 6
- Empates: 3
- Derrotas: 3
Contra o São Paulo
- Jogos: 8
- Vitórias: 5
- Empate: 1
- Derrotas: 2
* Nunca fez gol em clássicos
Total
- Jogos: 29
- Vitórias: 16
- Empates: 4
- Derrotas: 9