Goleiro reserva de clube grande é das funções mais ingratas do futebol: para entrar em campo, algo grave precisa ter ocorrido com o titular. Quando Danilo Fernandes fraturou o dedo do pé esquerdo (com retorno previsto somente para o começo de junho), durante um treino na semana passada, na véspera de Inter e Cruzeiro, o torcedor colorado sentiu um frio na espinha. Marcelo Lomba teria condições de substituir o goleiro chamado recentemente por Tite para a Seleção Brasileira?
O temor se justificava. Afinal, em nove meses de Inter, Lomba havia disputado apenas oito jogos (com duas vitórias, dois empates e quatro derrotas) e sofrido 12 gols: média de 1,5 gol por jogo. Curiosamente, Lomba foi contrato ao Bahia no ano passado, depois que Danilo Fernandes sofreu uma lesão muscular e que Muriel não conseguiu manter um desempenho ao mesmo nível do titular.
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Marcelo Lomba, treinador pelo preparador Daniel Pavan, foi testado e aprovado no mata-mata com o Cruzeiro (vitórias do Inter por 3 a 1 e 2 a 0). O exame final, porém, ocorreu na noite dessa quarta-feira, diante do Corinthians. O empate em 1 a 1 consagrou o camisa 12.
Lomba fez cinco defesas difíceis, assegurando ao menos o empate colorado no Beira-Rio. Não fosse a surpreendente ineficiência do ataque – com Brenner e Nico López desperdiçando gols das mais diversas maneiras –, o goleiro teria sido o herói da vitória sobre um dos gigantes do país.
1ª Defesa (Nível Difícil)
A primeira grande defesa de Lomba ocorreu em série, logo aos três minutos de jogo. Com um ataque bem mais objetivo que o do Inter, o Corinthians chegou à área adversária através do ex-colorado Marquinhos Gabriel, que cruzou para Rodriguinho. Após dividida pelo alto com Victor Cuesta, a bola sobrou para o paraguaio Romero. Livre, o atacante bateu com força e Marcelo Lomba cresce a sua frente e faz grande defesa, com as pernas e o peito.
2ª Defesa (Nível Difícil.2)
Após a primeira defesa, Romero segue no embate mano a mano com Lomba. Enquanto o paraguaio consegue virar o corpo para bater de novo a gol, Marcelo Lomba sai à caça e defende com os pés. Em seguida, sai vibrando como um goleiro de futsal, gritando, com as veias do pescoço saltadas e levantando a torcida nas arquibancadas.
3ª Defesa (Nível Agilidade de Gato)
Enquanto o Inter seguia cruzando bolas para a área do Corinthians, sem grande consequência, os paulistas chegavam para definir o jogo. Mas a estrela de Lomba seguia a brilhar. Aos 31 minutos, após um cruzamento que foi afastado pela defesa do Inter, a bola sobrou para Maycon, que bateu com força, no ângulo, mas Lomba, mesmo com a visão encoberta por Victor Cuesta, por Leo Ortiz e por Rodrigo Dourado, espalmou com a mão direita.
4ª Defesa (Nível Milagre)
No segundo tempo, a pilha do Inter já parecia gasta, tamanho o esforço para buscar o empate (minutos antes, Romero havia, enfim, vencido Lomba, em uma bobeira do lado direito da defesa, William e Ortiz, que foram envolvidos por Arana e permitiram o cruzamento para gol do paraguaio). E, aos 30 minutos, Giovanni Augusto (que se negou a entrar na negociação por Valdívia, pois não queria disputar a Série B) recebeu às costas da defesa, correu desde a intermediária até ficar cara a cara com Lomba (Ortiz, que o acompanhava, não chegou a tempo de evitar o chute) e, ao concluir, viu Lomba deslizando pelo gramado, fazendo a defesa com o joelho esquerdo e mandando um aqui não, queridinha ao corintiano.
5ª Defesa (Nível Ressurreição)
43 minutos do segundo tempo. Todos extenuados em campo. Rodriguinho, o capitão do Corinthians na noite de quarta-feira, recupera um rebote na área e bate de primeira, em cima, no canto direito. Gol? Não. Marcelo Lomba se joga e espalma com as duas mão, para o desespero do ex-Grêmio (na foto, acima).
Conclusão: se o Inter ainda está vivo na Copa do Brasil é graças (uma vez mais, como no ano passado) ao seu goleiro.
*ZHESPORTES