
Pela primeira vez em sua história, o Grêmio jogará na pequena e acolhedora cidade mineira de São João del Rei. Localizada a cerca de 190 quilômetros da capital Belo Horizonte, a terra do Athletic é recheada por ruas de paralelepípedos, teatros, museus, muitas igrejas e homenagens ao seu filho mais ilustre.
Na manhã desta terça-feira (11), a reportagem de Zero Hora circulou por pontos importantes do município mineiro.
São João del Rei foi berço de um dos mais renomados políticos brasileiros. Eleito presidente da república em 1984, Tancredo Neves faleceu antes de assumir o posto que lhe foi dado através do voto de um colégio eleitoral. Era o fim da ditadura e o início da democracia brasileira.
— Quando se fala de São João del Rei sempre é lembrada a figura de Tancredo Neves. Embora tenha tido apenas um mandato como vereador, ele sempre esteve ligado à cidade. E a cidade tem um orgulho muito grande em relação a figura de Tancredo Neves. Depois ele vai se tornar presidente em 1984, mas acaba falecendo antes de assumir. Mas ele é sempre lembrado por ser um político que chegou à presidência do Brasil sendo são-joense — conta Euclides de Freitas Couto, professor da Universidade Federal de São João del Rei.
A cidade onde os sinos falam
Mas essa cidade mineira também é conhecida por outras características únicas. Em Minas Gerais, São João del Rei é chamada de "a cidade onde os sinos falam". Logo pela manhã, inclusive, é possível ouvir o badalar dos sinos que tocam nas diferentes igrejas espalhadas pela região.
— Isso é uma tradição do século 18, de origem portuguesa, na qual os sinos cumpriam uma função de controle social que era imposto pela igreja. Os sinos marcavam a hora para as pessoas levantarem, hora do almoço, da oração etc. Evidentemente que hoje, no século 21, essa agenda não tem mais o mesmo apelo. Mas ela continua existindo. Dependendo da data comemorativa, o sino da igreja pode tocar às 5h da manhã. Existe uma linguagem social em torno destes sinos — destaca o professor.
Mantendo ainda suas tradições históricas, São João del Rei possui uma linha férrea com ligação à cidade vizinha de Tiradentes. A Maria Fumaça é responsável por uma festiva travessia entre o local do jogo desta quarta-feira (12) e a cidade onde o Grêmio ficará hospedado para o confronto válido pela segunda fase da Copa do Brasil.
Caminhar pelas ruas do centro histórico de São João del Rei é um convite a reviver o passado. Cercada por construções históricas, museus, teatros e pontes antigas, é possível se sentir como se estivéssemos em séculos passados, mas sem deixar de perceber a existência de pertencimento ao século 21.
— Quando chega na segunda metade do século 20, São João del Rei começa a ter outras atividades, começa a ter indústrias, cursos superiores e, depois, você tem a fundação da Universidade Federal de São João del Rei e o município acaba se transformando em uma cidade universitária. Muitos estudantes de fora são atraídos. Hoje é uma cidade que vive muito das universidades, federais e particulares. Temos uma circularidade cultural muito distinta — completou Euclides de Freitas Couto.
Talvez nos primórdios, os habitantes do pequeno município localizado no sudeste de Minas, jamais imaginariam que São João del Rei também poderia se transformar em uma cidade inserida na rota do futebol brasileiro.