
A Ucrânia aceitou uma proposta dos Estados Unidos para um cessar-fogo de 30 dias na guerra com a Rússia nesta terça-feira (11). Para selar o acordo, uma declaração conjunta dos dois países foi publicada e o governo ucraniano se comprometeu em tomar medidas para restaurar uma paz duradoura após a invasão da Rússia.
O comunicado foi publicado após uma reunião em Jidá, na Arábia Saudita. A declaração levanta as restrições à ajuda militar e à troca de informações de inteligência, afirmaram num comunicado esta terça-feira.
Após o encontro, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou que os Estados Unidos precisam "convencer" a Rússia a aceitar o cessar-fogo. Ele acrescentou que a Ucrânia vê essa proposta de trégua de forma "positiva".
"A Ucrânia aceita essa proposta. Estamos dispostos a adotar uma medida como essa", escreveu Zelensky em uma rede social.
O líder ucraniano também disse que os Estados Unidos "entendem nossos argumentos, captam nossas propostas" e agradeceu a Donald Trump pela "conversa construtiva" entre as equipes de ambos os países.
"A Ucrânia está pronta para a paz. A Rússia deve demonstrar se está disposta a pôr fim à guerra ou a continuá-la", acrescentou Zelensky.
O chefe da administração presidencial ucraniana, Andrii Yermak, que participou das negociações em Jidá, disse:
— Eu acho que a expectativa em relação à Rússia não vem só da Ucrânia. Eu acho, a partir da declaração conjunta de hoje, que essa é a expectativa do mundo. A Rússia precisa dizer muito claramente, eles querem paz ou não? Eles querem acabar com essa guerra que eles começaram ou não?
Reunião ocorreu após abate de drones

Representantes de alto escalão da Ucrânia e dos Estados Unidos iniciaram conversas nesta terça-feira (11) sobre formas de encerrar a guerra de três anos da Rússia contra Kiev, em reunião na Arábia Saudita, horas após forças aéreas russas abaterem 343 drones ucranianos no maior ataque do gênero desde que o Kremlin ordenou a invasão do país vizinho.
Três pessoas foram mortas e 18 ficaram feridas, incluindo três crianças, no ataque de drones que atingiu 10 regiões russas, segundo autoridades. A Rússia, por sua vez, lançou 126 Shaheds e outros tipos de drones, além de um míssil balístico na Ucrânia nesta terça, de acordo com a força aérea ucraniana.
Na cidade saudita de Jidá, no Mar Vermelho, jornalistas tiveram breve acesso à sala onde uma delegação ucraniana se reunia com o principal diplomata dos Estados Unidos para dialogar sobre o fim do maior conflito a irromper na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou que a última sexta-feira (7) foi marcada por "trabalho intenso" com a equipe do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, "em vários níveis".
Em publicação no X, o líder ucraniano destacou que "o tema é claro: paz o mais rápido possível, e segurança da forma mais confiável possível".
Tensão entre presidentes
Nas últimas semanas, as conversas entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, foram marcadas por tensão.
No dia 28 de fevereiro, em um encontro no Salão Oval, na Casa Branca, os dois presidentes chegaram a "bater-boca".
Em um momento, Trump levantou a voz e chamou o ucraniano de "desrespeitoso".
Em outra ocasião, o americano falou que lhe parecia ser "mais fácil" lidar com a Rússia do que com a Ucrânia para pôr fim à guerra e que confia em seu par russo, Vladimir Putin.
Como começou a guerra?
O conflito explodiu no Leste Europeu em fevereiro de 2022, mas a tensão era crescente desde 2014, quando a Rússia invadiu e ocupou a península da Crimeia. No Donbass, região leste da Ucrânia, combatentes separatistas, com o apoio russo, lutavam contra tropas do governo pela independência das regiões de Donetsk e Luhansk.
Tendo como argumento a defesa da população falante russa na região, o presidente Vladimir Putin reconheceu, em 21 de fevereiro de 2022, a autonomia dessas áreas. Três dias depois, invadiu a Ucrânia, uma ex-república soviética, independente desde 1991. O pano de fundo da crise foi a expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para o Leste.
O conflito começou cedo em 24 de fevereiro de 2022. Por volta das 5h (horário local de Moscou, meia-noite no Brasil), o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou a operação militar de invasão ao país vizinho.
Inicialmente, a expectativa era de que os ataques ficassem restritos às duas regiões reconhecidas por ele como independentes na última segunda-feira (21): Donetsk e Luhansk, no leste da Ucrânia. No entanto, ao longo do dia, a realidade foi de explosões em diferentes regiões ucranianas, inclusive a capital, Kiev.
À época, a reação internacional ocorreu de forma contundente. Membros da Organização das Nações Unidas (ONU), da União Europeia e de países como China, França, Alemanha e Reino Unido reagiram à invasão, seja condenando ou pedindo moderação.
Quais os motivos para a guerra?
Diferentes motivos explicam o conflito na Ucrânia, uma ex-república, que integrava a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas até 1991. Com o colapso soviético, a Ucrânia declarou independência, mas sua soberania sempre esteve ameaçada pela influência da Rússia, que vê o território como parte do país.
Nos anos 2000, a Ucrânia iniciou uma aproximação com o Ocidente, mas houve reveses. Em 2004, o presidente eleito Viktor Yanukovich (pró-Rússia) foi removido do poder pela Revolução Laranja, após protestos exigindo eleições transparentes no país. Em 2014, ele retornou ao poder. Ao rejeitar acordos preliminares de integração à União Europeia, Yanukovich foi derrubado pela revolta na Praça Maidan, em Kiev. Semanas depois de sua saída, a Rússia anexou a Crimeia, uma base da frota russa no Mar Negro, e separatistas pró-Moscou tomaram instalações-chave no leste ucraniano.
Expansão da Otan
A intenção da Ucrânia de ingressar na aliança militar do Ocidente acendeu o alerta na Rússia, que temeu tropas na sua fronteira e área de influência. As sucessivas expansões da Otan para o Leste, inclusive para países que pertenciam ao antigo Pacto de Varsóvia, causaram desconforto no Kremlin.
Imperialismo russo
Depois da crise com o fim da URSS, nos anos 1990, Putin assumiu a presidência com a promessa de reposicionar a Rússia enquanto potência global. O país quis retomar a influência em áreas de maioria russa, como a Ossétia do Sul e a Abcásia (Geórgia), a Transnístria (Moldávia) e o próprio Donbass (Ucrânia). A Crimeia já foi ocupada em 2014.
Separatismo no Donbass
Putin explora os interesses de grupos separatistas pró-Rússia no Donbass. Depois da ocupação da Crimeia, essas organizações passaram a exigir a independência das províncias ucranianas de Donetsk e Luhansk. Uma guerra começou entre os separatistas e as forças do governo da Ucrânia. Dias antes da invasão russa, em 2022, Putin reconheceu a independência das duas províncias.
Proteção dos russos étnicos
O governo russo argumentou que um dos objetivos de sua "operação especial", eufemismo de Putin para a guerra na Ucrânia, foi proteger os falantes russos do Donbass, que, em sua visão, seriam perseguidos pelo governo ucraniano.
"Desnazificação" do país
Putin disse que o governo ucraniano era integrado por políticos de inspiração nazista. Embora o Batalhão Azov, unidade militar integrada às forças armadas russas que luta contra os separatistas no Donbass, conte com integrantes de orientação neonazista, essa não é a realidade da maioria dos líderes ucranianos.