No ano em que marcou o retorno do Bra-Pel à elite do Gauchão, nenhuma das torcidas de Pelotas imaginava ver os times em situação tão dramática.
Após uma primeira fase ruim, Brasil e Pelotas estão no quadrangular que rebaixará dois clubes. Ainda sem vencer após duas rodadas, os clubes se preparam para dois clássicos em quatro dias.
A depender dos resultados na Boca do Lobo, neste domingo (2), às 19h, e no Bento Freitas (5), quarta-feira, às 21h30min, ambos podem ficar atrás de Avenida e São José.
Brasil de Pelotas
Apesar da situação de tensão, há um clima que mistura melancolia e esperança. Na memória recente do lado vermelho e preto estão os acessos às Séries D e C nacionais, e as seis temporadas seguidas na Série B do Brasileirão, cuja derrocada iniciou-se em 2021.
Pelotas
Já pelo lado azul e amarelo, restam as campanhas gloriosas no começo dos anos 2000, que levaram à disputa da Copa do Brasil e da Copa Sul-Minas, e o ano de 2010, quando o título da Taça Fábio Koff, o segundo turno do Gauchão, escapou das mãos no segundo tempo em uma batalha épica contra o Inter no Beira-Rio.
Drama
O 2025 é bem mais dramático. Mesmo desiludidos pelas más campanhas no Gauchão e por um 0 a 0 sem graça no clássico da primeira fase, os torcedores apostam na mística das camisas, na raça dos times e na força das instituições para vencer o rival e seguir firme na luta contra o rebaixamento à Divisão de Acesso.
Tanto é que, mesmo com o preço alto e em um domingo de Carnaval, as torcidas se mobilizam para o jogo na Boca do Lobo.
O que pensam os torcedores
Brasil e Pelotas chegam ao Bra-Pel na luta para fugir do rebaixamento do Gauchão.
A torcida xavante lamenta os consecutivos rebaixamentos no cenário nacional entre 2021 e 2022, após jogar a Série B do Brasileirão entre 2016 e 2021. Soma-se, agora, o mau momento vivido no Estadual.
— O momento é desesperador. Imagina um cara que ganha um salário mínimo a vida toda e, em um período de seis anos, passou a ganhar R$ 50 mil. Neste período, ele não adquiriu casa, ainda anda de Uber, contraiu dívidas e aí ele volta a ganhar um salário mínimo. É tipo isso o que aconteceu com o Brasil na Série B. A gente não colheu frutos, só se endividou. Não há estrutura, base ou Centro de Treinamento, não temos nada — lamenta o torcedor César Lascano.
E complementou:
— A minha expectativa é que mais uma vez a voz da torcida xavante vai ter que falar mais alto. O Brasil vai ter que se pautar pela sua raça e na força da sua torcida.
Pelo lado do Lobo, o desespero é por lutar contra o rebaixamento após três anos difíceis na Divisão de Acesso do Rio Grande do Sul.
Neste século, o Pelotas tem 13 participações no Gauchão, 12 fora da elite. Os sucessos recentes são nas competições de segundo semestre, com o título da Copa Sul Fronteira e da Supercopa Gaúcha em 2013, duas Recopas gaúchas (2014 e 2020), e as Copas FGF de 2008 e 2019.
— Desde os 11 anos eu vou ao estádio e o momento é lamentável, de uma tristeza profunda. Desde 2010 não temos um time que faça a torcida ter emoção. É sempre lutar pra voltar (ao Gauchão) ou não cair. Saí arrasado depois do último jogo contra o Avenida (Pelotas cedeu o empate após sair vencendo por 2 x 0). Nossa perspectiva para o clássico é a vitória. Por mais que a gente esteja machucado, triste, não me resta outra alternativa senão domingo, como sempre, há 30 anos, e mais uma vez apoiar — Elisandro do Amaral Guilherme, 43 anos, torcedor do Pelotas.
Bra-Peis mais importante dos últimos anos?
Para grande parte dos torcedores de Brasil e Pelotas, a sequência de dois clássicos em quatro dias é a mais importante desde a década de 1990.
— Penso assim porque vai definir um rebaixamento. Clássico é sempre importante e pode elevar o moral do time para o resto do Gauchão e a gente evitar esse rebaixamento — diz Adam Gomes, 31 anos, torcedor do Lobo.
— O Bra-Pel vale muito. O de domingo será o mais importante que já vi até hoje. O período horrível dos dois clubes faz com que valha a vida dos dois clubes, vai além da rivalidade centenária. Arrisco dizer que é o mais importante desde a seletiva para o Brasileirão de 1977. Jogar valendo rebaixamento até mancha essa história, não queria estar vivendo isso – afirma Pedro Henrique Costa Krüger, torcedor do Brasil de 33 anos.
O que esperar do jogo?
Brasil e Pelotas têm campanhas muito parecidas no Gauchão. Ambos terminaram a primeira fase com sete pontos e apenas uma vitória. No quadrangular da "morte", o Lobo fez um ponto a mais até o momento, dois no total, e está na segunda posição, enquanto o Xavante é o lanterna com um.
— O Pelotas é melhor, um time mais bem armado e com mais opções, então temos que fazer valer a superioridade em casa. Tem a pressão pelo resultado, mas acho que conseguimos uma vitória e um empate, isso pode decidir nosso rumo na competição — avalia o torcedor do Lobo, João Weizer, 31 anos.
— Vai ser um jogo duro, como foi no primeiro turno. O Brasil vai ter que se defender, porque o Pelotas é melhor tecnicamente, infelizmente. Vamos ter que nos defender, usar a força física e torcer para um atacante pelo menos fazer um golzinho, se chegar na cara do gol. O momento do Brasil é isso aí, não tem mais o que esperar, a não ser a mística da camisa — opina o torcedor rubro-negro Rafael Nachtgall, 39 anos.
E o futuro dos clubes?
O horizonte é um pouco mais animador aos olhos do torcedor do Pelotas, fruto do retorno ao Gauchão após anos difíceis no Acesso, mas também pela situação financeira melhor (ou menos pior) que o clube vive.
— Estamos em anos de angústia porque o coirmão vinha em ascensão grande. Agora vamos abraçar o nosso time, torcer e vir junto. O Pelotas tem que tentar vagas na Copa do Brasil, torcer que os melhores jogadores fiquem no ano que vem e que passe essa nossa angústia. Vamos continuar torcendo — afirma o torcedor Luciano Ferreira de Siqueira, 52 anos.
— A dívida do Brasil é impagável, a gente só vai adiando o fim, de certa forma. É um momento muito negativo. Os próximos jogos vão acelerar ou retardar os próximos passos. Os clássicos extrapolam a rivalidade e falam da sobrevivência do Brasil enquanto clube. Com espaço para uma SAF, o Brasil perdendo o Gauchão, perde receita e fica menos atrativo para investidores — aponta o fanático xavante Pedro Krüger.