
Em meados de 1986, um menino de 15 anos, tímido e com cabelos despenteados, apresentou-se ao lado dos pais nas divisões de base do Chacarita Juniors com o sonho de ser goleiro profissional. Seu nome era Javier.
Baixo para a posição, acabou não se firmando e deixou o clube após apenas sete meses. Nesta véspera de Argentina e Brasil e quase 40 anos depois, porém, o atleta se tornaria presidente da Argentina e um dos políticos mais polêmicos da América Latina.
Coordenador da divisão infantil do Chacarita há quase 50 anos, Eduardo Greco foi treinador de Javier Milei na base do clube portenho. Em entrevista a Zero Hora em Buenos Aires, o dirigente conta que a postura do jovem goleiro à época nada tinha a ver com a irreverência que marca hoje o estilo do chefe de estado argentino.
— O Javier era um goleiro discreto, calmo e introvertido. Era baixo para a posição, então o meu titular era outro goleiro. Mas ele treinava muito e tinha um temperamento muito tranquilo. Nada a ver com o estilo que o marca hoje como presidente — conta.
Greco afirma que uma característica marcante da passagem de Milei pelo Chacarita era o apoio da família, que estava sempre presente nos jogos e treinos.
— A sua família o apoiava muito. Seu pai, sua mãe e sua irmã sempre o levavam aos treinos e o apoiavam — relembra.
Curiosamente, Chacarita Juniors é um clube de origem socialista, linha oposta ao liberalismo econômico defendido por Milei em seu mandato. Porém, segundo Greco, o então goleiro não dava bola para política.
— Naquela época, o Javier não tinha nenhuma relação com política. Nem ele e nem os seus companheiros falavam sobre política ou economia. É raro meninos de 15 anos falarem sobre estes temas. Mas de fato para mim foi uma surpresa quando ele se candidatou à presidência da Argentina — finaliza.
Torcidas foram às ruas contra Milei
Controverso em muitos aspectos, o mandato de Milei gera polêmicas também no mundo do futebol. No início de sua gestão, o presidente emitiu decretos que estimulavam os clubes argentinos a se tornarem sociedades anônimas (o equivalente às SAFs, no Brasil), mas enfrentou forte oposição da Associação de Futebol da Argentina (AFA) e das principais agremiações do país.
Além disso, no dia 12 de março, dezenas de torcidas organizadas argentinas, as Barra bravas, foram às ruas protestar contra cortes nos benefícios dos aposentados, parte das medidas de ajuste fiscal que marcam o mandato de Milei. As manifestações foram marcadas por forte repressão policial.
A exceção destes aspectos, Milei prioriza implementar as suas medidas para tirar a Argentina da crise econômica e se mantém distante das páginas esportivas. Apesar do histórico de atleta, o chefe de estado argentino não costuma emitir opiniões sobre futebol. Nem mesmo às vésperas de um clássico como Argentina e Brasil, que ocorrerá nesta terça-feira (25), no Monumental de Nuñez, em Buenos Aires, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo.